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quarta-feira, 6 de abril de 2011

Texto do acadêmico Vicente Orsi Vargas, para a disciplina Literatura Sul-Rio-Grandense

A proposta era comparar a letra de uma canção do atual "tradicionalismo" com um poema da época do Partenon Literário. O acadêmico Vicente Orsi Vargas escreveu o belíssimo texto que segue:

CARACTERÍSTICAS ESTEREOTIPADAS DO GAÚCHO PRESENTES NO POEMA CANTO DO CAMPEIRO, DE APOLINÁRIO PORTO ALEGRE, E COMPARAÇÃO COM A LETRA DA CANÇÃO NÃO PODEMOS SE ENTREGÁ PROS HOME

      O poema Canto do Campeiro, de 1870, escrito por Apolinário José Gomes Porto Alegre (Anexo I), nos mostra como o imaginário romântico da literatura gaúcha da época idealizava a figura do gaúcho. Já, no primeiro verso, “Avante, ginete”, vê-se a importância do cavalo e do cavaleiro, chamado de ginete. A imagem positiva do gaúcho livre, com o seu cavalo, que faz seu destino, com sua arma na mão, que precisa enfrentar perigos e nunca se entrega é evidenciada ao longo do poema, em versos como “Que, afeito ao perigo”, “Ferinas Pistolas Já fiz preparar”, “Avante ginete, Num bom galopar!”, “O livre não teme, Pesados grilhões”;
     Aparecem também descrições da natureza e do ambiente: “Na verde campina, Que o sol ilumina”, “Nossos rincões”.
      Exalta a figura da Nação do imaginário romântico gaúcho, a idealizada República Rio Grandense, em versos como “Não dorme o Rio Grande... Erguido de pé; Quem pode vencê-lo? Se sabem temê-lo Capaz de retê-lo No jugo, quem é!”.
      Relembra ditas façanhas históricas, referindo à Guerra dos Farrapos, nos versos “Soberbo decênio A história gravou; Decênio de glória De eterna memória, Que à luz da vitória A pátria vingou!”.

      Traçando um paralelo com o poema de Apolinário Porto Alegre, analisemos a música Não Podemos Se Entregá Pros Home, produção atual do tradicionalismo gaúcho (ver anexo II).
Aqui também, como no poema, se vê a reverência ao gaúcho valente já nos primeiros versos “O gaúcho desde piá vai aprendendo/ A ser valente não ter medo ter coragem / Em manotaços dos tempos e em bochinchos/ Retempera e moldura a sua imagem”.
Referência ao companheiro cavalo, na segunda estrofe: “Com lança cavalo e no peitaço” e na terceira estrofe: “E apesar dos bons cavalos e dos arreios”.

     Podemos, inclusive, ver uma relação muito estreita entre os significados dos versos do poema de Apolinário Porto Alegre “Avante! Galopa Num bom galopar;”; “Avante, ginete” e um verso da música “E esporeia o futuro com bravura”, mostrando um positivismo e crença num futuro bom, baseado nos valores da pátria, do povo e apoiado na força do homem.

     No final, a música ainda fala dos tempos atuais, do progresso e das mudanças da paisagem, como em:
“Veio o trator com seu ronco matraqueiro/ E no tranco sem fim da evolução / Transformou a paisagem dos potreiros”.
E sempre sem perder o otimismo: “E ao contemplar o agora dos seus campos / O lugar onde seu porte ainda fulgura / O velho taura da de rédeas no seu eu / E esporeia o futuro com bravura”.

    Como visto, o gaúcho idealizado pelos escritores do Partenon Literário ainda perdura nas letras das músicas tradicionalistas do Rio Grande do Sul. As ditas façanhas dos farrapos, a bravura, honestidade e lealdade do povo, a beleza dos campos e o companheirismo do cavalo habitam o imaginário de quem cultiva essa tradição.
   A meu ver, é uma pena que esse tradicionalismo cego, que se apega em falsas histórias, seja tão presente, ao passo que existem riquezas culturais, naturais e artísticas neste Estado que poderiam ser vivenciadas e cultuadas sem fanatismo, de uma maneira saudável e realista, sem nos abstermos de pensamentos críticos, fazendo com que o povo gaúcho fosse mais rico culturalmente e livre de preconceitos e discriminações contra aqueles que não comungam da cartilha do gauchismo sectário.

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