Bem-vindos ao blog do curso de Letras da Faccat

Informação, interação e diálogo: são esses os motivos da criação deste blog. Aqui, os alunos de Letras da Faccat ficam informados dos últimos acontecimentos do curso: é um espaço para ver e ser visto!

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Ordem das comunicações - II Seminário de Língua e Literatura, em homenagem aos 10 anos do Projeto Ler...

RELAÇÃO DAS COMUNICAÇÕES –  II SEMINÁRIO DE LÍNGUA E DE LITERATURA

03/10 – QUINTA-FEIRA

15h – Trabalhos estritamente relacionados ao projeto Ler...

15h- Comunicadora: Ezoléte da Conceição Rhodes da Silva – Escola Calixto Eulálio Letci (Taquara).
Trabalho: Arte de ler a vida

15h10min: Comunicadora: Vanessa da Silva Marcon
Trabalho: Ler é um prazer, com muito terror

15h 20min – Comunicadora: Scheila Gnoatto Stumm
Trabalho: O encantamento das fábulas em sala de aula

15h30min – Comunicadoras: Cíntia Romaica de Lima e Maria Paulina Arias Tarasiuk
Trabalho: Lendo eu vou me preparando para o mercado de trabalho.

15h40min – Comunicadora: Greice Franciele da Costa Rogério
Trabalho: Com bolacha Maria é mais divertido aprender

19h30min – Trabalhos de Língua e Literatura

19h30min: Comunicadora: Renata Faria Amaro da Silva
Trabalho: O gênero carta em discurso: uma experiência enunciativa de ensino da Língua Portuguesa.

19h45min: Comunicadora:  Pâmela Nataline Camacho
Trabalho: A construção do sentido em textos humorísticos

20h: Comunicadora: Tamiris Machado Gonçalves
Trabalho: O trabalho com os gêneros discursivos em sala de aula

20h15min: Comunicadores: Agostinho Scherer, Karine Fagundes e Simone Andréa Homem
Trabalho: Abordagem de Lima Barreto no livro ‘Ser Protagonista’.

20h30min: Comunicadores: Dieila dos Santos, Leandro Lui, Lílian Kézia do Amaral
Trabalho: Análise de livros didáticos relativos ao período pré-modernista

20h45min: Comunicadoras: Lucivera Naloski Dreschler, Daniela Strassburger, Sandra Cachoeira
Trabalho: Análise da biografia de Euclides da Cunha segundo um livro didático

21h: Comunicadora: Ligia Feller
Trabalho: Análise das personagens João Benévolo e Noel do romance ‘Caminhos cruzados’

21h15min: Comunicador: Agostinho Scherer
Trabalho: O romance ‘Crepúsculo’: possíveis incoerências no enredo?

21h30min: Comunicadoras: Amanda Vargas, Josiani da Silva Pospichil, Luciane Salete da Silva, Rossana Vargas
Trabalho: Amor e repressão em ‘Amar não acaba’, de Frederico Lourenço

21h45min: Comunicadoras: Dieila dos Santos e Lílian Kézia Amaral
Trabalho: ‘Os cus de Judas’, de António Lobo Antunes: um olhar sobre a relação opressor e  oprimido

22h: Comunicadora: Nicole Carina Siebel
Trabalho: As principais dificuldades de produção textual de alunos ingressantes na Faccat

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Resenha escrita pelos acadêmicos Iago Möller e Vanessa Schneider - "Cartas Portuguesas" - Literatura Portuguesa I - Profª Luciane Raupp

As Cartas Portuguesas, de Mariana Alcoforado
Por Iago Möller e Vanessa Schneider

            Uma obra bem explorada não vem de mera minuciosa leitura. Aliás, uso aqui a palavra “explorar” de forma proposital e bem intencionada, já que uma obra nunca é escrita na inexistência da vida, da terra e do tempo: para conhecer uma obra com verdadeira profundidade, é preciso conhecer as mãos e a o lugar de onde ela vem. Com “Cartas Portuguesas”, supostamente escritas por Mariana Alcoforado durante o século XVII, não poderia ser diferente.
            Talvez o uso de “supostamente” soe ousado, mas é o que teorizam especialistas: que a freira que narra a história, apesar de realmente ter existido entre 1640 e 1723 e vivido em algum convento português, jamais tenha escrito tais cartas. Em contrapartida, as entrelinhas de tal romance epistolar nos dão um interessante retrato da sociedade portuguesa da época.
            Em resumo, as cinco cartas narram, da perspectiva da freira, o romance exacerbado vivido com um oficial francês, Noel Bouton de Chamilly. Bem, talvez não seja correto colocá-los em um mesmo plano, pois as cartas partem exatamente da distância entre os sentimentos dos dois. Enquanto Mariana vive e sofre de forma intensa tal amor, o oficial não possui sentimentos recíprocos, confessando inclusive possuir uma amante na França em uma de suas respostas. A partir disso, Mariana persegue os sentimentos que a aflingem. Como ela esclarece em uma das cartas, apesar de em certos momentos arrepender-se de seu amor, se diz mais feliz tendo provado desse sentimento do que se jamais o tivesse gozado. O que segue são hipérboles, repetições, contradições e sentimentos afins que vão sendo trabalhados pelo tempo, até o momento em que na quinta e última carta ela dá seu adeus ao amado, tornando explícito o desprezo que passa a sentir pelo mesmo e por si, por tanta ingenuidade em lidar com os seus sentimentos.
Note: é curioso o fato de que, como pouco acontece na história, um nobre e militar tornou-se coadjuvante na história de uma freira. Mais curioso ainda se percebemos que as histórias de guerra de um homem não se tornaram mais importantes que as hipérboles e contradições de uma mulher apaixonada.
Por falar em hipérboles e contradições, ficam claras as características da Escola Barroca Portuguesa na obra. A mais marcante é o constante duelo entre a razão e a emoção. Nessa luta, Mariana se desespera, se contradiz, se confunde. O duelo aqui não é apenas entre a mente e o coração, mas sobre as coisas que vem de seu interior e a cultura a qual estava submetida. Seguindo essa linha de pensamento, é correto também dizer que há duas Marianas presentes no texto: a Mariana freira e, principalmente, a Mariana mulher.
E aí, quando falamos nessa separação das duas Marianas, caímos novamente no papel que a mulher exercia (ou que era obrigada ou educada a exercer) na sociedade da época. Monica Rector, em sua obra “Mulher: objeto e sujeito da Literatura Portuguesa”, defende que a “através dos séculos, a mulher tem sido calada e representada sob a ótica masculina. Essas representações, além de não coincidirem com aquilo que é vivido e sentido pelas mulheres, apontam para um dualismo entre homens e mulheres, cabendo ao feminino os conteúdos ligados à irracionalidade; ao masculino, os que tangem a racionalidade”. Isso nos leva a pensar que a possibilidade das cartas nunca terem sido escritas por Mariana, mas sim pelo escritor francês Gabriel de Guilleragues, não é assim tão absurda uma vez que os papéis de ambos eram bem distintos na sociedade.

Ela diz também que a mulher ideal, pregada pela sociedade sob forte influência dos costumes cristãos (já que Portugal sempre foi um país extremamente católico), acaba por se tornar uma “mulher-deusa”, uma conduta exemplar, uma vida livre de “pecados”... Os destinos para toda e qualquer mulher eram sempre os mesmos: ou a moça casava-se ou virava freira. Na fuga deste padrão, as mulheres desviantes recorriam à prostituição. Tal imagem era tão forte que vários estudiosos garantem em seus estudos que os diários e relatos da época não podem nem mesmo ser usados como “verdades” ou retratos da real vida daquelas mulheres, mas sim do perfil e do estilo de vida que elas deveriam levar.

terça-feira, 11 de junho de 2013

Artigo das alunas Adriana Schilling e Andréia Sarturi, produzido na disciplina de Sintaxe II, ministrada pela Prof.a. Ms. Vera Lúcia Winter

As flutuações categoriais do adjetivo


Adriana Kirsch Schilling[1]
Andréia Sarturi[2]

Resumo

A Gramática tradicional do nosso idioma, na maioria das vezes, trata das classes de palavras de forma superficial, ou seja, sem fazer uma análise mais aprofundada, relacionando-as às situações de fala ou ao contexto em que são utilizadas. Sendo assim, muitas dessas palavras são consideradas, equivocadamente, como pertencentes a uma determinada categoria, sem levar em conta esse funcionamento na sua classificação. Essas situações são mais comuns do que imaginávamos, por isso servirão como tema deste trabalho, onde trataremos, mais especificamente, da classe dos adjetivos e seus possíveis sentidos, considerando sua multifuncionalidade de empregos na unidade textual. Temos como objetivo principal lançar um outro olhar sobre a imagem fechada das classes de palavras, apresentadas de forma tradicional, visando observar a validade dessas unidades linguísticas do ponto de vista semântico, buscando formas diferenciadas e significativas de trabalhar com essas  categorias em sala de aula.

Palavras-chave: Gramática. Adjetivo. Transposição. Linguagem. Docência.


Introdução
Este artigo irá se deter mais especificamente na classe determinada pelas gramáticas tradicionais como adjetivo, apresentando as possíveis flutuações categoriais exercidas por essa categoria.
            Com base teórica nos estudos de alguns autores selecionados, o trabalho mostrará que definir certas palavras como adjetivo, sem fazer uma análise do entorno em que ela está sendo utilizada, pode ser um equívoco.
            Pretende-se, por meio deste artigo, fazer uso de exemplos em que o adjetivo muda de categoria, os quais poderão ser utilizados em sala de aula pelo professor de Língua Portuguesa, e, também, relacionados ao dia a dia do aluno, visando, deste modo, um ensino mais proveitoso em sala de aula e não tão metalinguístico.
            Através das observações aqui apresentadas, busca-se, também, ampliar a visão do docente dessa área para que ele possa ver além dos padrões pré-estabelecidos pelas gramáticas escolares. Deste modo, talvez, teremos um ambiente mais harmonioso em sala de aula, pois essa nova visão não deve permanecer somente com o professor, mas ser dividida com o aluno que, da mesma forma, poderá ampliar sua visão em relação à aprendizagem das classes gramaticais. 


1. A Gramática tradicional e seus padrões


            Muitas vezes, a gramática tradicional apresenta aos estudantes dos níveis fundamental e médio, e até mesmo aos estudiosos da língua nacional, as dez classes de palavras existentes de uma forma supérflua, pois, simplesmente, mostra um “quadrinho” com essas dez categorias gramaticais, dizendo que as seis primeiras classes são variáveis, isto é, flexionam-se, em gênero, número e grau , enquanto que as quatro classes seguintes são invariáveis.
            Depois dessas classes serem expostas ao leitor, começa a caracterização de cada uma delas. Essa caracterização é feita, na maioria das gramáticas normativas, de um modo preciso, como se tal classe de palavras fosse pré-definida somente por aqueles padrões ali expostos. Todos nós sabemos que não é bem assim, porque já sofremos bastante com tais classificações apresentadas por essas gramáticas na escola. Por isso, vamos, neste trabalho, tentar romper com esse ensino metalinguístico e ampliar a visão dos interessados no estudo das classes gramaticais, mais especificamente, neste artigo, dos adjetivos e suas mudanças categoriais.
            Algumas dessas gramáticas chegam a tentar romper com os cânones da tradição, porém, muitas vezes, não conseguem atingir esse objetivo. Podemos observar isso nas gramáticas mais antigas e também naquelas que se dizem atuais. Analisando a “Novíssima Gramática da Língua Portuguesa”, de Domingos Paschoal Cegalla (2000), é fácil constatar que esse rompimento não acontece, pois o gramático traz o conhecido “quadro” das dez classes gramaticais, apesar de fazer uma pequena observação sobre a mudança de classes de algumas palavras. É o que podemos ver no trecho que segue:



A mesma palavra pode pertencer a mais de uma classe. Como por exemplo: “O céu é azul (azul, adjetivo). O azul triste de seus olhos fascinava-me (azul, substantivo). Abel era um caipira corajoso (caipira, substantivo). Assisti a uma festa caipira (caipira, adjetivo). (CEGALLA, 2000, p.127).


Logo em seguida, Cegalla passa a falar dos substantivos, caracterizando-os e classificando-os de modo bem tradicional. “Consideremos estes exemplos: ‘Aquele homem comprou um livro e ganhou uma flor.’ ‘Na praia, a alegria era geral.’ As palavras são substantivos, ou seja, designam seres.”(2000, p.128).
Mais adiante, ele faz uma ressalva sobre as palavras que podem ser substantivadas. No entanto, ao observarmos os exemplos apresentados, vemos que o responsável pela transposição de classe dessas palavras é o artigo que lhes é anteposto, e não a palavra em si. Cegalla (2000, p.131) afirma:


Palavras de outras classes gramaticais podem ser substantivadas. Para isso, antepõe-se-lhes o artigo: ‘O morrer pertence a Deus.’ (Raquel de Queirós). ‘Até hoje a polícia não sabe o porquê do sequestro – se vingança ou extorsão.’ ‘Não deixo o certo pelo duvidoso.’(Graciliano Ramos)



Podemos perceber nesse trecho que é o artigo que determina a classe substantiva da palavra.
Os cânones tradicionais são igualmente observados quando Cegalla fala dos adjetivos, como podemos notar no seguinte trecho:


Consideremos estes exemplos: “O velho touro da fazenda saiu, arrogante.” (Raquel de Queirós). “Na ponta do chalé brilhava um grande ovo de louça azul.” (Cecília Meireles). As palavras destacadas atribuem qualidades aos substantivos (touro, ovo, louça): são, por isso, adjetivos. Estes, são palavras que expressam as qualidades ou características dos seres. (CEGALLA, 2000, p. 154)



Isso que vimos ocorre na maioria das gramáticas tradicionais e até mesmo naquelas que dizem ir além desses conteúdos, preconizando uma concepção moderna de estudo científico da língua. É o que aparece na “Gramática Houaiss da língua portuguesa” (2010), que, apesar de ser mais descritiva, obedece aos mesmos padrões tradicionais, quando se refere aos substantivos e adjetivos:



A classe do substantivo reúne as seguintes características principais: a) dá nome às parcelas de nosso conhecimento representadas como seres; b) serve de núcleo às expressões referenciais do texto; c) tem gênero próprio (masculino ou feminino) e varia em número (singular ou plural); d) desempenha as funções sintáticas de sujeito e de objeto direto. (AZEREDO, 2010, p. 155).


Sendo assim, fica evidente que alguns gramáticos até tentam fugir dos paradigmas tradicionais, mas isso não chega a ocorrer durante toda a classificação e caracterização das classes gramaticais tratadas como adjetivos e substantivos.


2. O adjetivo e suas transposições


O linguista Mário Alberto Perini, em seu livro “Sofrendo a Gramática” (1999), no texto “O Adjetivo e o Ornitorrinco”, fala dos dilemas da classificação das palavras. 
Professor aposentado, palestrante, um extraordinário linguista, Perini é autor de diversos livros onde debate esses problemas de classificação das categorias linguísticas, sendo um crítico da gramática tradicional. Numa linguagem formal, porém simples e direta, o autor inicia o capítulo falando da classificação dos animais no campo da zoologia, tudo para deixar claro ao seu leitor que, mesmo no meio científico, existem dificuldades quanto à classificação, sendo uma delas a do ornitorrinco, animal australiano que possui características tanto de mamífero, quanto de réptil. Após evidenciar isso, entra no campo da linguagem, comparando a classificação de palavras com a das classes dos animais: “A linguística também tem seus ornitorrincos.” (PERINI, 1999, p.40).
O linguista não é contra a classificação de palavras, mas afirma que, depois de vários anos estudando os “adjetivos” e “substantivos”, percebeu que essas duas classes, embora tradicionalmente separadas, são difíceis de distinguir e até mesmo impossível, pelo menos como duas classes distintas, como fazem as gramáticas usuais. PERINI (1999, p.41) destaca:


Uma coisa que nos poderiam ter dito na escola (mas, em geral, não disseram) é para que a gente precisa separar as palavras em classes. Ora, a razão é semelhante à que nos obriga a separar os animais em classes, ordens, espécies, etc.: classificamos as palavras para podermos tratar delas com um mínimo de economia.


De forma muito inteligente, Perini lista palavras para ilustrar seu raciocínio. Usando como exemplo as palavras João e paternal, esclarece que João é nome de coisa (pessoa), e paternal exprime apenas qualidade; logo são substantivo e adjetivo, respectivamente. Porém ele interroga: “Como classificar maternal?” Essa palavra ora adjetivo (atitudes maternais), ora substantivo (Meu filho ainda está no maternal) demonstra, segundo o autor, que a distinção entre essas duas classes, tal como formulada nas gramáticas normativas, é inadequada. Como podemos observar uma citação sua (1999, p.42):


Não podemos dar simplesmente a lista dos adjetivos e a dos substantivos, porque, além de ser uma maneira antieconômica de fazer as coisas, uma lista pode ser arbitrária, juntando alhos e bugalhos sob o mesmo rótulo.


Conforme o linguista, se aceitarmos as definições tradicionais, teremos, pelo menos, três classes: uma das palavras que só podem ser nomes de coisas, outra das que só podem expressar qualidades e, finalmente, a classe das palavras que podem ser as duas coisas.
Podemos utilizar outros critérios para diferenciar os substantivos, de acordo com Perini, como, por exemplo, a palavra que aparece logo depois de um artigo ou a que aceita aumentativo e diminutivo, mas, para o autor, o resultado dessas aplicações discordam mais uma vez das classificações tradicionais: “Assim verde, tradicionalmente um adjetivo, pode ocorrer depois de artigo (O verde está na moda) e aceita diminutivo, mesmo quando exprime qualidade (Um pé de alface verdinho). Perini (1999, p. 44) afirma ainda que “O mínimo que podemos concluir é que a distinção entre substantivos e adjetivos, tal como formulada nas gramáticas comuns, é inadequada.”
Para Perini, não existe distinção entre a classe dos adjetivos e a dos substantivos, o que existe é uma grande classe (classe dos nominais), em que as palavras variam de comportamento conforme o significado que exercem, e essa flexibilidade segue estritamente a necessidade de comunicação. Sendo assim, um “substantivo” pode virar um “adjetivo” ou vice-versa. Segundo ele, foi o que aconteceu com a palavra cabeça, que até há pouco tempo só se usava como nome de coisa. No entanto, um belo dia, alguém teve a ideia de usá-la para designar uma pessoa ou coisa admirável de certo ponto de vista. A partir daí, a palavra cabeça não só passou a ter significado de “qualidade”, mas também passou a ser empregada em estruturas tipicamente “adjetivas” (Ontem fui ver um filme cabeça).
Os argumentos apresentados pelo linguista são realmente convincentes e nos levam a refletir sobre os padrões classificatórios adotados pelas gramáticas. Ele enfatiza ainda que a palavra xícara continua sendo apenas nome de coisa, porque até hoje ninguém teve a ideia de usá-la para exprimir uma qualidade.


2.1 Os críticos dos paradigmas


            Assim como Perini, outros gramáticos atuais criticam os padrões pré-estabelecidos pelas gramáticas normativas, Celso Cunha e Lindley Cintra são dois deles. Em seu livro “Nova Gramática do Português Contemporâneo” (1985), Cunha e Cintra não se preocupam só em examinar a palavra em sua forma, mas também analisam e mostram que a classificação das palavras está relacionada ao seu entorno, ou seja, dá-se de acordo com a função sintática exercida por ela dentro da oração. CUNHA E CINTRA (1985; p. 239) afirmam:


É muito estreita a relação entre o substantivo (termo determinado) e o adjetivo (determinante). Não raro, há uma única forma para as duas classes de palavras e, nesse caso, a distinção só poderá ser feita na frase. Comparem-se, por exemplo: “Uma preta velha vendia laranjas” / “Uma velha preta vendia laranjas”. Na primeira oração, preta é substantivo, porque é a palavra núcleo, caracterizada por velha, que, por sua vez, é adjetivo na medida em que é a palavra caracterizadora do termo núcleo. Na segunda oração, ao contrário, velha é substantivo e preta adjetivo. Como vemos, a subdivisão dos nomes portugueses em substantivos e adjetivos obedece a um critério basicamente sintático, funcional.


            Rodolfo Ilari, outro crítico dos paradigmas tradicionais, em sua obra “Gramática do Português Falado” (2002; vol. II), mostra que a flutuação categorial do adjetivo não ocorre só entre essa classe e a classe dos substantivos, mas também entre os adjetivos e os advérbios. Podemos observar este fato no seguinte trecho:


Tradicionalmente, as abordagens se limitam à constatação de que advérbios são formados pela adição do sufixo -mente a adjetivos, com todas as peculiaridades relativas à manutenção de características fonológicas da base, flexão de feminino e ocorrência apenas no último item em caso de coordenação. Entretanto, parece existir um outro processo de formação de advérbios em português: a conversão, isto é, a mudança de classe adjetivo/advérbio sem alteração na forma fonológica. Alguns casos de conversão adjetivo/advérbio são bastante conhecidos, como os de: a) João falou alto/baixo; b) João anda rápido demais.



            Desse modo, temos que concordar com a conclusão de Perini (1999, p. 45), quando ele diz que “a classificação tradicional, no que se refere aos substantivos e adjetivos, não tem salvação”, pois uma palavra pode mudar seu comportamento gramatical de acordo com cada nova função na oração.


3. A Linguagem da juventude em sala de aula

Todos nós sabemos que “português” não é a matéria preferida da maioria dos jovens nas escolas. Pensando nisso, após analisarmos vários exemplos de flutuação categorial do adjetivo para o substantivo, ou vice versa, apresentados por diversos estudiosos da língua, resolvemos direcionar o conteúdo deste artigo para o ambiente escolar.
Como pudemos avaliar até aqui, essa mudança de classe, que certas palavras podem sofrer, está, nitidamente, ligada à fala, às escolhas e às combinações que o falante faz ao pronunciar e até mesmo ao escrever uma frase. Em uma notícia publicada pela revista “Língua Portuguesa” (2010) sobre “palavras extraconjugais”, o jornalista Luiz Costa Pereira Junior fala a respeito dessas combinações e afirma que Noam Chomsky entende que há restrições à seleção combinatória, a fim de não se criar frases agramaticais, mas a combinação é considerada livre quando respeita o sistema do idioma. Isso fica evidente quando o jornalista diz:


Nada impede que, em vez de “ódio mortal”, eu diga “ódio cego”. Haverá ligeira, mas concreta, mudança de sentidos: uma expressão amplifica a intensidade do sentimento, a outra enfatiza o efeito dele numa pessoa. Mas “ódio quadrado” lançaria “ódio” a outra zona de significação, no mínimo confundente.(JUNIOR, 2010, p. 48)



Sendo assim, podemos perceber que há transgressões permitidas e outras não. É, também, o que Perini (1999. p. 41) afirma:


Um falante aprende a reconhecer um verbo, e é só os verbos que ele faz variar em pessoa e em tempo. Isso não é coisa que se aprende na escola; faz parte do nosso conhecimento gramatical implícito. Nenhum falante, mesmo analfabeto, tenta conjugar a palavra computador, ou a palavra sempre, ou a palavra e



            Relacionando isso às gramáticas tradicionais, observamos que elas incluem na sua proposta de ensino da língua, na maioria das vezes, somente a “classificação”, em que o estudante é convidado a decorar uma lista de palavras, ou a aceitar que algumas delas são adjetivos, e outras são substantivos. Isso ocorre sem que lhes seja mostrado que o que determina a categoria gramatical de uma palavra ou expressão é, exatamente, essas combinações que são feitas com outras palavras no eixo sintagmático.
            As situações de fala, a enunciação, devem ser trazidas para o ambiente escolar, porque, se observarmos a linguagem em uso, veremos que nem sempre as palavras têm o sentido e o valor que lhes atribuem as gramáticas e os manuais que pretendem ensinar a língua.
            A linguagem é flexível, o que se pode ver com os jovens, que a empregam de uma maneira muitas vezes criativa, criando neologismos e modificando a sua classificação tradicional. Por que, então, não direcionar essa linguagem à sala de aula, relacionando-a às possíveis mudanças de classes de palavras. Dessa forma, poderíamos, talvez, tornar o ambiente escolar e o “português” mais agradável para os nossos jovens. A jornalista Brenda Fucuta (2010, p. 15), em sua entrevista na revista Língua Portuguesa, diz:


O conteúdo é importante, mas desde que embalado de um jeito funcional. E o jovem gosta de entretenimento aliado a conteúdo. Se algo benfeito é bem embalado, o jovem tira de letra mesmo a mensagem mais complexa.



            Pensando nisso, buscamos exemplos típicos da fala dos adolescentes, que podem ser utilizados para demonstrar a flutuação categorial entre adjetivos e substantivos, lembrando sempre que não é uma linguagem formal e nem para qualquer ambiente ou qualquer situação, mas que pode, sim, dar ênfase e tornar mais “palpável” a aprendizagem do aluno.
            Seguem, então, alguns exemplos de gírias utilizadas na linguagem juvenil:



Substantivo
Adjetivação
Mocreia
Mulher feia
Salsicha
Pessoa metida à besta
Chinelão
Um ser sem moral
Filé
Menina bonita
Gatinha (o)
Linda (o)
Prego
Mané ou otário
Pelada
Jogo de futebol
Rato
Esperto
Animal
Muito bom
Anta
Tonto
Mala
Pessoa insuportável
Banana
Atrasado, parado
Xarope
Chato
Chiclete
Pessoa que pega no pé
Cachorro
Homem mulherengo / mau caráter



            Ao analisarmos essa linguagem, veremos que as palavras da esquerda, ainda que gramaticalmente sejam vistas como substantivos, funcionam como adjetivos, através de um processo de derivação imprópria, em virtude das suas condições de emprego, tendo em vista os propósitos de comunicação, e isso está diariamente acontecendo: Caderno será um substantivo até alguém resolver utilizá-lo como adjetivo. (A “moda”, é claro, tem que pegar). Antigamente “gatinho” era apenas um animalzinho pequeno (O gatinho da vizinha fugiu de casa). Hoje, “gatinho” tem outro “sentido” e torna-se adjetivo facilmente (O menino mais gatinho da escola é aquele).
            Mário Alberto Perini, em seu livro “Sofrendo a gramática” (1999), traz outros exemplos neste sentido:


a. Uma palavra amiga (qualidade)  b. Um amigo fiel (nome de coisa)
a. Uma menina magrela (qualidade)  b. Essa magrela (nome de coisa)
a. Um homem trabalhador (qualidade)  b. Os trabalhadores (nome de coisa)
a. O carro verde (qualidade)   b. O verde está na moda (nome de coisa)
  
Como diz Perini: “O leitor poderá facilmente aumentar a lista”.


Conclusão


            A partir do que foi exposto acima, percebemos que a maneira como a gramática tradicional classifica as palavras pode ser favorável no sentido “econômico” da língua, para que possamos fazer nossas escolhas de forma mais rápida, ao construirmos um enunciado, um discurso. Porém, precisamos sempre levar em consideração que não há somente essa classificação a prióri, em que a palavra é isolada do contexto e recebe um determinado “carimbo” (adjetivo, substantivo, advérbio...).
            A palavra, na verdade, numa perspectiva puramente classificatória, despretensiosa quanto aos seus valores semânticos e funcionais, pode ser avaliada isoladamente, como demonstram essas gramáticas, mas, provavelmente, os ganhos serão bem maiores se ela for relacionada a um  contexto discursivo, pois é analisando o seu entorno linguístico e discursivo que podemos notar que esses padrões pré-estabelecidos não dão conta dos sentidos, os quais determinam as categorias a que pertencem, conferindo, desse modo, uma visão mais exata  para as “classes gramaticais”.
            De acordo com o jornalista Luiz Costa Pereira Junior (2010, p.47,): “As palavras também vivem casos extraconjugais. Para além do uso consagrado, sofrem efeitos dos relacionamentos que mantêm com as outras palavras”. Portanto, parece ser um bom princípio de análise, ao trabalhar com as  palavras, mostrar que elas, embora pertençam a uma determinada classe, têm “ o potencial funcional” (Perini, 2006, p.140) de outra (s).
            Por isso, é importante trazer esses exemplos para a sala de aula, para que os alunos percebam que um substantivo, por exemplo, por poder desempenhar mais de uma função, pode, por isso mesmo, ter o potencial funcional de outras palavras, no caso, o de um adjetivo. Nessa direção, o professor vai mais longe, saindo do ensino metalinguístico e levando os alunos a refletirem sobre a língua, tornando, assim, o ambiente escolar mais agradável.
Referências


AZEREDO, José Carlos de. Gramática Houaiss da língua portuguesa. 3ª ed. SP: Editora Publifolha, 2010.
CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima gramática da língua portuguesa. 43ª ed. SP: Companhia Editorial Nacional, 2000.
CUNHA, Celso e CINTRA, Lindley. Nova gramática do português contemporâneo. 2ª ed. RJ: Nova Fronteira, 1985.
ILARI, Rodolfo. Gramática do português falado vol.II. 4ª ed. SP: Editora Unicamp, 2002.
PERINI, Mário. Sofrendo a gramática. SP: Ática, 1999.
FUCUTA, Brenda. A Linguagem dos jovens. Revista Língua Portuguesa. SP. Nº 52. Fevereiro, 2010.
JUNIOR, Luiz Costa Pereira. Palavras Casadas. Revista Língua Portuguesa.  SP. Nº 56. Junho, 2010.
http://portuguesar.wordpress.com




     
















[1] Acadêmica do curso de Letras da FACCAT. E-mail: adriks@bol.com.br
[2] Acadêmica do curso de Letras da FACCAT. E-mail: andreiasarturi@gmail.com

quinta-feira, 11 de abril de 2013

II Seminário de Língua e Literatura: 10 anos do Projeto Ler - Atenção às novas datas

Atenção às novas datas e programação do II SEMINÁRIO DE LÍNGUA E LITERATURA DA FACCAT: 10 ANOS DO PROJETO LER


Programação:

29/08 – quinta-feira

13h30min às 17h: Oficinas referentes ao III Fascículo de 2013


19h30min às 22h30min:  Sessões de comunicação - INSCRIÇÕES ATÉ 20/08 
Língua
Literatura
Interações
Propostas pedagógicas

31/08 -sábado

8h30min às 11h: Mesa redonda com escritores do Ler.

14h: Café (desfile premiado com personagens do Ler). 


Evento: II SEMINÁRIO DE LÍNGUA E LITERATURA DA FACCAT: 10 ANOS DO PROJETO LER...
Público-alvo: acadêmicos de licenciaturas, professores e participantes do Projeto LER...
Datas: 29 e 31/09
Carga Horária:  16 horas
Horário:  dia 29/08, das 13h30min às 17h e das 19h30min às 22h; dia 31/08, das 8h30min às 11h30min e das 13h às 16h30min
Local: Campus da Faccat
Investimento: R$35,00
Nº de vagas: 200
Período de inscrições: até 20/08 para sessões de comunicação e 25/08 para demais participantes
Local de inscrições: Protocolo ou pelo site www.faccat.br
Promoção: Curso de Letras

sexta-feira, 1 de março de 2013

Agenda de eventos - semestre 2013/1




AULA INAUGURAL DOS CURSOS DE HISTÓRIA, LETRAS, MATEMÁTICA E PEDAGOGIA
Palestra: O professor e a educação inclusiva — um novo paradigma educacional
Ministrante: Marilene Cardoso
Data: 2 de março
Horário: 8h30min
Local: campus da Faccat
Investimento: gratuito
Vagas: 200
Promoção: Licenciaturas da Faccat


LABORATÓRIO DE LÍNGUA PORTUGUESA
Ministrante: Juliana Strecker
Público-alvo: acadêmicos da disciplina de Português I e demais interessados
Datas: 20 de março — Interpretação textual; acentuação.
             27 de março — Interpretação textual; resumo e resenha.        
             10 de abril — Interpretação textual; recursos de coesão textual.
             24 de abril —  Interpretação textual; dificuldades ortográficas.
             25 de abril — Interpretação textual; dificuldades ortográficas.
             15 de abril — Interpretação textual; notícia de divulgação científica.
             29 de maio — Interpretação textual; artigo de divulgação científica.
            12 de junho — Interpretação textual; pontuação.
            19 de junho — Interpretação textual; revisão de textos de divulgação científica.
            20 de junho — Interpretação textual; revisão de textos de divulgação científica.
            3 de julho — Interpretação textual ; revisão geral.
            4 de julho — Interpretação textual; revisão geral.
Horário: das 19h30min às 22h30min
Local: sala C101
Investimento: gratuito
Promoção: Curso de Letras


EVENTO: OFICINA DE ESCRITA LITERÁRIA — CONTOS
(Iniciação à escrita criativa)
Ministrante: Luciane Maria Wagner Raupp
Público-alvo: acadêmicos da Faccat e demais interessados
Datas: de 25 de março a 24 de junho (às segundas-feiras)
Horário: das 19h30min às 22h
Local: campus da Faccat
Período de inscrições: até 23 de março
Inscrições: www.faccat.br
Vagas: 20
Investimento: R$180,00 à vista ou 3 parcelas de R$ 60,00
Promoção: Curso de Letras

TENDA DOS MILAGRESTROCA-TROCA DE LIVROS
Público-alvo: acadêmicos da Faccat e demais interessados
Datas: 18,19 e 20 de abril
Horário: terça e quarta-feira, das 20h30min às 21h30min;
               sábado, das 11h às 13h
Local: campus da Faccat
Investimento: gratuito
Promoção: Centro de Arte e Cultura e Curso de Letras

EVENTO: PONTUAÇÃO E ANÁLISE SINTÁTICA EXTERNA — PERÍODO COMPOSTO POR COORDENAÇÃO E SUBORDINAÇÃO
Ministrante: Vera Helena Dentee de Mello
Público-alvo: acadêmicos da Faccat e demais interessados
Datas: 3, 10, 17 e 24 de maio
Horário: das 19h30min às 22h30min
Local: campus da Faccat
Período de inscrições: até 30 de abril
Inscrições: www.faccat.br
Investimento: R$ 20,00 (acadêmicos ativos ou formados na Faccat)
                        R$ 60,00 (demais interessados)
Promoção: Curso de Letras

EVENTO: II SEMINÁRIO DE LÍNGUA E LITERATURA DA FACCAT- 10 ANOS DO PROJETO LER...
Público-alvo: acadêmicos da Faccat, participantes do Projeto LER e demais interessados
Datas: 7 e 8 de junho
Horário: 7 de junho, das 13h30min às 17h e das 19h30min às 22h; 
8 de junho, das 8h30min às 11h30min e das 13h às 16h30min
Local: campus da Faccat
Período de inscrições: até 22 de maio para sessões de comunicação e 6 de junho para demais participantes
Inscrições: www.faccat.br
Vagas: 200
Investimento: R$ 35,00 para comunicadores e R$ 25,00 para ouvintes
Promoção: Curso de Letras

EVENTO: MONTEIRO LOBATO - PRAZER EM CONHECÊ-LO!
Ministrante: Luciane Maria Wagner Raupp
Público-alvo: acadêmicos da Faccat e demais interessados
Datas: 14, 21 e 28 de junho
Horário: das 14h às 17h
Local: campus da Faccat
Período de inscrições: até 12  de junho
Inscrições: www.faccat.br
Investimento: R$ 20,00
Promoção: Curso de Letras