Bem-vindos ao blog do curso de Letras da Faccat

Informação, interação e diálogo: são esses os motivos da criação deste blog. Aqui, os alunos de Letras da Faccat ficam informados dos últimos acontecimentos do curso: é um espaço para ver e ser visto!

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Mostrando os talentos do curso - Texto da aluna Juliana Orsi Vargas

Em um exercício da disciplina de Leitura e Produção de Textos I, os alunos deveriam mudar o final do seguinte texto, a partir do ponto que está em vermelho:

@

“Oi, Aninha, fiquei sabendo do que te aconteceu queria tá aí, mas num vai dá olha, isso acontece,melhor assim minha vó sempre dizia que tem males que vem pro bem... Bjks  Dri”
            Ana releu a mensagem. Não entendeu nada. Não era só a pontuação que inexistia. Não havia acontecido nada com ela. Nunca acontecia. Quem era essa tal de Dri, com a bendita avó? Viu o remetente: drika.sousa. Vou saber? Melhor deixar quieto. Vírus não era, não tinha anexo.
            Seguiu com suas atividades rotineiras. Quando terminava de revisar um texto, deu-se conta de que era seu dia de buscar as trigêmeas na escola. Voou, voltou, todo-mundo-para-o-banho-já, chegada do marido, jantar, novela, sono. Lembrou que precisava enviar o texto revisado. Quando abriu sua caixa de e-mails, estava lá: dri.sousa. Subject: novidades.
            Não quis abrir. Ou melhor: queria, mas não era com ela. Em tempos outros, diriam que isso era violação de correspondência. Se o carteiro, por engano, colocasse uma carta para o vizinho na sua caixa, ela abriria? Não, claro que não. Se fosse a tia Dulce, claro que sim. Mas ela não era a tia Dulce, a  Fofoqueira, com efe maiúsculo. Era a A-na!
            O melhor a fazer seria deletar. Claro que o melhor era apagar, ignorar.  O correto, o certo, a única opção a considerar. Mas o assunto... “novidades”. Quem não gosta de novidades? Era mulher, tinha sangue nas veias. Qualquer um a perdoaria. Poderia dizer que abriu sem querer, automático, tanta coisa pra fazer, meu Deus!.Mas ela se perdoaria? De mais a mais, quem saberia? Só ela. Tudo isso. E se mandasse um e-mail para essa tal de drika.sousa, dizendo que se tratava da ana.silva errada? Daí a Drika saberia que ela, A-na, era uma fuxiqueira das boas. Nada disso...
            O marido chamou, que já era mais que hora de dormir, que saco! Ana sabia que ele não conseguia dormir enquanto ela não se deitasse. Tinha medo de se sobressaltar quando ela deitasse – claro que ele jamais admitiu isso.
            - Te ajudei, viu? Botei a tropa toda na cama. Dentinhos escovados, os pijamas iguais. Tudo bonitinho, do jeito que tu gostas – disse o marido.
            Ela murmurou algo parecido com um “obrigada”. Estava tarde para discutir as implicações semânticas em torno do verbo ajudar. O marido a abraçou...
            - Hoje não, estou preocupada.
            O marido jogou-se, pesado, na cama:
            - Pra variar. O que foi, desta vez?
            - Não, nada. Esquece.
            Seguiu-se o embate habitual: ele insistia, ela negava. Até...
            - Eu recebi um e-mail que não sei se era para mim...
            O marido estava impaciente...
            - Vamos, e daí? Como assim? O que dizia?
            - Era de uma tal de Dri, dizendo que sabia do que ocorreu comigo, que há males que vêm para o bem, que gostaria de estar comigo, mas não pode... Essas coisas..
            O marido ajeitou-se para dormir. Claro que não era para ela. Essas coisas acontecem.
            - Mas, e se for? E se aconteceu alguma coisa de que não estou sabendo ainda?
            Isso, para o marido, àquela hora da noite, já era demais.
            - Sim, e o coelhinho da Páscoa também te mandou um e-mail perguntando o que tu queres de presente. Tens ideia de quantas Anas Silvas existem? Milhares, milhões...
            - Mas, e se for alguém me avisando? Eu conhecendo várias Drikas...
            - Sim, e o teu umbigo é o centro do universo. Dorme aí, que já está tarde. – resmungou o marido.
            Ana esperou o marido roncar. Desceu as escadas na ponta dos pés. Ligou o computador, acessou sua conta de e-mail. A mensagem estava lá, pedindo, implorando para ser lida. Resolveu escrever para a drika.souza:
            Hoje recebi duas mensagens suas. Li a primeira e julgo que te enganaste de endereço eletrônico, pois nada ocorreu comigo, tampouco a conheço.”
            Queria escrever que não conhecia ninguém tão ignorante que não soubesse usar um único ponto, mas seria muita grosseria. Releu a mensagem. Quem se importa, oras? Quem se sentiria confortada com uma mensagem daquelas? Deletou o que escreveu.
Jogou seu nome no Google. Milhões de anas silvas, de todas as partes, de todos os gostos e profissões. Riu-se de sua memória e parafraseou: anas pretas, brancas e amarelas – pra que tantas anas, meu Deus? Qual delas estaria, naquele momento, precisando de consolo? Qual delas, agora, viveria uma pequena tragédia pessoal? Poderia escrever para anasilva, tudo junto, ana_silva, ana-silva, ana.silva1, ana.silva2, ana.silva 3.000.000, mas o que diria? Que sente muito? Ela sente? Mesmo? Por quem?
Ana reparou no esmalte descascado das suas unhas sob o teclado. Nas mãos ásperas. Na boca seca. Nos pés gelados. No estômago roncando, que não se pode comer à noite.
Fez um chá e encheu a banheira de água escaldante. Era hora de sentir algo por si mesma.

O texto produzido pela aluna foi o seguinte:

Ana esperou o marido roncar. O que havia naquela mensagem? Estranho sentir-se tão curiosa. Afinal, a tal Drika não era o tipo de pessoa que poderia despertar seu interesse. Não resistiu. A cama, o sono e o marido poderiam esperar.
            Sentou-se em frente ao computador e checou sua caixa de e-mails. Abriu a segunda mensagem de Drika. “Não conta nada pro Carlos, a viagem tá marcada, se for não volta mais... Bjs Drika”. Ana ficou olhando para aquela frase, paralisada. Carlos era o nome do marido de Ana. Muita coincidência. Mas, e se não fosse apenas o  acaso?  Não contar nada ao Carlos... Ora, essa! Que bobagem. Melhor dormir.
            No dia seguinte, a luz do sol trouxe à memória de Ana aquele e-mail tão duvidoso. Que viagem seria aquela? Para onde iria? Voltou ao computador. Sem querer, viu-se  respondendo o e-mail. “Não sei, cara Dri, acho que você pretendia escrever para outra Ana Silva. Não a conheço, portanto acredito que deva rever o endereço de e-mail. Ana Silva”. Assunto encerrado.
            No mesmo dia, já passava das vinte e duas hora quando Ana sentou-se distraidamente ao computador para dar uma olhadinha nas mensagens. Resposta de Drika. Sousa. Subject: eu sei. Ana sentiu o estômago gelar. O coração batia alucinado. Imagina, nãos seria nada. Drika estaria apenas se desculpando pela gafe. Porém, lá estava, com letras maiúsculas, a resposta da outra: “EU SEI DE VOCÊ. SEI QUE NÃO QUER FAZER SEXO COM SEU MARIDO PORQUE NÃO O AMA. SEI QUE TEM MEDO DE MORRER SEM SABER O QUE É ESTAR VIVA. VIVA, ENTENDE? QUEM VAI FUGIR NÃO SOU EU, É VOCÊ! Drika”. Não era possível, impossível. Não, como?
            Chorando, desesperada, Ana não sabia, nem poderia saber: era apenas alucinação. A segunda mensagem nunca fora aberta. Então, quem estaria lhe dizendo tudo aquilo?

(Juliana Orsi Vargas)

Um comentário:

  1. MINHA PROFESSORA LUH RAUPP;
    DEMAIS. VOU USÁ-LO COM MEUS ALUNOS DA SÉTIMA SÉRIE.
    GRANDE IDEIA.
    UM ABRAÇÃO.

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