Como resposta a essas questões, a acadêmica Anamaria Pohlman de Oliveira redigiu o texto que segue, mantendo o mesmo tipo de foco narrativo observado na obra e relacionando-se com os personagens pré-existentes.
Anamaria
Ela pensa que
me engana. Pode até enganar esse bando de otários com quem vive e o velho
coronel Tibúrcio, mas não a mim. Foi Maria Moura quem matou Cirino. Talvez não
tenha sido ela quem cravou a faca em seu peito, mas sinto, no fundo da alma, que
a ordem de matá-lo partiu dela.
Essa história de bilhete escondido nas roupas do
cadáver foi só para despistar. No mínimo, quer que as pessoas acreditem que foi
obra dos Seriemas ou do Bacamarte. Mas foi ela! Eu sei que foi! Cadela!
Sinto
falta de Cirino. Sinto tanta falta... Como dói a certeza de que nunca mais o
verei, nunca mais sentirei seu cheiro de homem, seus braços fortes ao redor do
meu corpo, o gosto dos seus lábios. E a culpa é toda daquela vadia, a Moura.
Eu
sei que Cirino não me amava, mas tampouco amava a Moura. Cirino só gostava dele
mesmo. Não faz mal. Eu amava por nós dois. Ainda amo. Cravaram a faca no
coração dele, mas é o meu que sangra.
Sempre
vejo os homens de Moura aqui no bar, nas noites de sexta-feira. Já servi
alguns. Homens rudes. Minha vontade é de aproximar-me de um deles e convencê-lo
a traí-la. Mas tenho medo! Tenho tanta raiva também...
É
sábado à tarde e estou recostada na janela do bar, olhando para a rua de chão
batido e para o pó que se levanta com o trotar dos cavalos. É o bando de Maria
Moura que sobe a rua. Ela vem à frente, ladeada por dois jagunços. Os outros a
seguem. Na certa, estão a caminho de mais um ataque. Que outras vidas
destroçarão agora? O grupo se aproxima, passa na frente do bar. Moura me
dispensa um olhar altivo que sustento por alguns instantes. O ódio me corrói
por dentro. Quero matá-la, fazê-la sofrer primeiro. Mas baixo os olhos. Não é o
momento, ainda não tenho forças. Mas um dia, Moura... um dia voltaremos a nos
cruzar. E nesse dia estaremos em pé de igualdade. Ainda não sei como, nem
quando, nem onde; mas, da próxima vez, será a sua última vez... Eu juro.
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