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segunda-feira, 2 de julho de 2012

(Re)visitando Maria Moura: a inserção de personagens - Texto da Acadêmica Anamaria Pohlman produzido na disciplina de Teoria, ministrada pela Prof.a Luciane Raupp

Com a proposta de refletir e praticar sobre foco narrativo, ancoragem espacial e temporal e criação de personagens, foi solicitado aos alunos que se imaginassem na época e no espaço em que a obra "Memorial de Maria Moura" se ancora. Quem seriam? Como se encontrariam com a Moura?  Como seria o "seu" capítulo dentro da obra?
Como resposta a essas questões, a acadêmica Anamaria Pohlman de Oliveira redigiu o texto que segue, mantendo o mesmo tipo de foco narrativo observado na obra e relacionando-se com os personagens pré-existentes.

Anamaria


Ela pensa que me engana. Pode até enganar esse bando de otários com quem vive e o velho coronel Tibúrcio, mas não a mim. Foi Maria Moura quem matou Cirino. Talvez não tenha sido ela quem cravou a faca em seu peito, mas sinto, no fundo da alma, que a ordem de matá-lo partiu dela.
            Essa  história de bilhete escondido nas roupas do cadáver foi só para despistar. No mínimo, quer que as pessoas acreditem que foi obra dos Seriemas ou do Bacamarte. Mas foi ela! Eu sei que foi! Cadela!
            Sinto falta de Cirino. Sinto tanta falta... Como dói a certeza de que nunca mais o verei, nunca mais sentirei seu cheiro de homem, seus braços fortes ao redor do meu corpo, o gosto dos seus lábios. E a culpa é toda daquela vadia, a Moura.
            Eu sei que Cirino não me amava, mas tampouco amava a Moura. Cirino só gostava dele mesmo. Não faz mal. Eu amava por nós dois. Ainda amo. Cravaram a faca no coração dele, mas é o meu que sangra.
            Sempre vejo os homens de Moura aqui no bar, nas noites de sexta-feira. Já servi alguns. Homens rudes. Minha vontade é de aproximar-me de um deles e convencê-lo a traí-la. Mas tenho medo! Tenho tanta raiva também...
            É sábado à tarde e estou recostada na janela do bar, olhando para a rua de chão batido e para o pó que se levanta com o trotar dos cavalos. É o bando de Maria Moura que sobe a rua. Ela vem à frente, ladeada por dois jagunços. Os outros a seguem. Na certa, estão a caminho de mais um ataque. Que outras vidas destroçarão agora? O grupo se aproxima, passa na frente do bar. Moura me dispensa um olhar altivo que sustento por alguns instantes. O ódio me corrói por dentro. Quero matá-la, fazê-la sofrer primeiro. Mas baixo os olhos. Não é o momento, ainda não tenho forças. Mas um dia, Moura... um dia voltaremos a nos cruzar. E nesse dia estaremos em pé de igualdade. Ainda não sei como, nem quando, nem onde; mas, da próxima vez, será a sua última vez... Eu juro.

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