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terça-feira, 1 de março de 2011

Roteiro elaborado na disciplina de Metodologia do Ensino da Literatura - 2010/2

O roteiro abaixo foi elaborado pela acadêmica Kátia Salvador, na disciplina de Metodologia do Ensino da Literatura, ministrada pela Prof.a. Juliana Strecker, no segundo semestre de 2010.

Nome: Kátia Salvador
Disciplina: Metodologia da Literatura


1 CONTEXTO HISTÓRICO

Segundo Cesar (2006), o Rio Grande do Sul apareceu, pela primeira vez, em 1534, no mapa de Gaspar de Viegas. O território, porém, permaneceria inexplorado durante quase dois séculos. Caberia aos padres jesuítas, portugueses e espanhóis, em distintas for­mas de ocupação, lançarem o fundamento básico para a ocupação: a pecuária, cuja criação e comercialização tornaram-se motivo para o aproveitamento da região. A fundação oficial aconteceria em 1737, com a chegada da expedição militar do Briga­deiro José da Silva Pais, construindo-se a fortaleza Jesus-Maria-José, que garantiria o comércio de gado e o contrabando de mercadorias espanholas transportadas pelo rio da Prata
A definição dos limites territoriais entre portugueses e espanhóis não existia, além disso, a distância do centro do país determinava a falta de tudo: remédios, igrejas, mulheres, distrações, fatores que exigiam o imediato povoamento do território. E, para ocupá-lo, Portugal enviou, a partir de 1752, casais vindos dos Açores e da Madei­ra. No século seguinte, após a Independência, cresceria o processo de imigração: ale­mães, italianos, suíços, poloneses chegaram à província, dedicando-se à agricultura e, posteriormente, ao comércio e à indústria.
A efetiva ocupação do território e a consolidação da independência política de Argentina, Brasil e Uruguai asseguraram a paz externa, mas a província seria abalada pela Guerra dos Farrapos que defendia o sistema republicano, o fim da escravidão e pretendia a independência em relação ao Império do Brasil. Iniciado em 1835, o movi­mento revolucionário de estancieiros estendeu-se até 1845, com a assinatura da Paz de Ponche Verde, mediada por Caxias.
Neste contexto social, político e econômico, tomaria forma o mito do monarca das coxilhas: misto de peão e combatente, o homem sulino assumiria uma identidade mítica embasada na igualdade entre trabalhadores e estancieiros. Em síntese, a ideologia do gaúcho legitimava os interesses dos pe­cuaristas (...) e reafirmava o seu poder dentro da província.
Face ao modo de ocupação, à distância do centro do país, ao analfabetismo, à au­sência de editoras e livrarias, a literatura culta demorou a fixar-se no sul do país.
As primeiras manifestações literárias do Rio Grande do Sul, conforme Zilberman (1992), obedeceram à forma métrica, conhecidas como, trovas. Numa época em que não existiam editoras de livros, uma poesia podia se tornar pública por meio da declamação ou aparecer num rodapé de jornal. Por outro lado, a poesia se alimentou também da contribuição oral: cultivou-se a familiaridade com o cancioneiro popular, que se propagou enquanto se mantiveram vivos a cultura rural de onde proveio e os laços com a produção trovadoresca do Prata.
De fato, o cancioneiro popular constituiu veia produtiva, encarregando-se de exal­tar as qualidades do habitante do pampa. No entanto, é lícito acrescer-se que a pri­mazia literária culta deve-se a Delfina Benigna da Cunha, “autora das Poesias ofereci­das às senhoras rio-grandenses” (ZILBERMAN, 1985 p. 77).
A Revolução Farroupilha e o engajamento tardio ao Romantismo desenharam um modelo literário idealizador do universo masculino, em que “o macho guerreiro, destemido na luta contra o inimigo ou as forças da natureza, que percorre a imensi­dão do campo inseparável de seu cavalo” (Chaves 1999: 68) dava o tom. Narradores masculinos, urbanos, cujos textos se construíam em terceira pessoa, enalteceriam as lutas fronteiriças, as diversões domingueiras, os amores da china. As narrativas em terceira pessoa têm um objetivo maior, uma interação do narrador, como leitor e o enredo, tornando-se, assim, a história constante, como em O Vaqueano, de Apolinário Porto Alegre, um dos próceres do Partenon Literário. No caso sulino, mesmo nas narrativas em primeira pessoa, o que sobressai, até então, é a exaltação do gaúcho, cujo ápice está em Contos gauchescos publicados por João Simões Lopes Neto e narrados por Blau.
Zilberman (1985) afirma que as transformações históricas resultantes da nova organização capitalista, a qual cer­cou as estâncias, marcou o gado, desalojou pequenos proprietários e engrossou a miséria urbana, determinaram um novo paradigma que desmitificou o gaúcho. Este novo modelo aparece em Ruínas Vivas, de Alcides Maya, em que o autor “dedica sua prosa à denúncia da decadência da sociedade sul-rio-grandense, indicando que as novas gerações são mais frágeis, dominam interesses mercenários, perdeu-se a au­tenticidade”. Neste trajeto decadente, sobretudo após 1930, encontram-se Sem Rumo, Porteira Fechada e Estrada Nova, de Cyro Martins, Memórias do Coronel Falcão, de Aureliano de Figueiredo Pinto, Xarqueada, de Pedro Wayne, Ba­cia das Almas, de Assis Brasil e Camilo Mortágua, de Josué Guimarães.
A partir da década de 1930, um novo tema adquire status, trata-se da imigração, que enfoca a saga de portugueses, alemães, italianos, judeus em obras produzidos, por exemplo, por Vianna Moog, Luiz Antonio de Assis Brasil, José Clemente Pozenato e Moacyr Scliar.
Por outro lado, desde os escritos do francês Saint Hilaire, que passara pela provín­cia no século XVIII, ressaltava-se a condição inferior imposta à mulher, que, ademais, segundo ele, sequer evidenciava sinais de vaidade (ZILBERMAN, 1985). Já no século XIX, sob o domínio da moral positivista e católica, à mulher concedia-se a condição de anjo tutelar e rainha do lar, restringindo-se o seu espaço de inserção, o homem deve sustentar e governar a casa, pois age de maneira racional, sem nunca se deixar levar por emoções. Por isso, seu campo de atuação é o espaço público, enquanto a mulher, por ser frágil, emotiva e, muitas vezes, irracional, deve ser protegida no espaço priva­do do lar, sob a tutela do homem.
Conforme Zilberman (1992), ainda que, surpreendentemente, entre os membros do Partenon Literário figuras­sem poetisas como Eurídice Barandas, Rita Barém e Luciana de Abreu, as mulheres sul-rio-grandenses protagonizariam ações significativas no campo literário a partir dos anos 40, do século XX, com os textos de Lila Ripoll – em poesia – e Lara Lemos – em prosa. As prosadoras sulinas afirmar-se-iam a partir das obras de Tânia Failace, Patrícia Bins e Lya Luft, que contemplam mulheres em busca de emancipação.














2 PARTENON LITERÁRIO


A sociedade Partenon Literário, fundado em 18 de junho de 1868, era um movimento de ideias as mais diversas e abrangentes possíveis na época, de concepções literárias até discussões de aspectos políticos e sociais. Foi, sem dúvida, a principal agremiação cultural do Rio Grande do Sul do século XIX, sendo considerado o órgão que efetivamente formou e consolidou um sistema literário na então Província sulina, sob a influência de Apolinário Porto Alegre, um dos mais jovens do grupo.
Segundo Zilberman (1992), a primeira sociedade criada foi “O Guaíba”, criada em 1856, mas  teve poucos anos de duração. Porém, foi nos anos 60 que iniciaram iniciativas bem mais sucedidas, como, por exemplo, a revista Arcádia, em Rio Grande e, em Porto Alegre, a Revista Mensal e os Murmúrios do Guaíba, vinculada a primeira à sociedade Partenon Literário.  As publicações circularam de 1869 a 1879, com interrupções, contando com os grandes escritores gaúchos do momento, como Apolinário Porto Alegre, Caldre e Fião, Bernardo Taveira Júnior, Múcio Teixeira. Não se pode esquecer, igualmente, das ações extraliterárias que a agremiação partenonista organizava, inovadoras para a época, como a manutenção de aulas noturnas e a realização de saraus poético-musicais em que se procedia à alforria de escravos. A Murmúrios do Guaíba, por seu turno, teve um total de seis edições, em que se destacavam romances, contos, poemas, peças de teatro e textos críticos assinados por José Bernardino dos Santos, Apolinário Porto Alegre, Bernardo Taveira Júnior e Carlos Ferreira, entre outros.
Zilberman (1992, p. 17 e 18) ainda afirma que:


É preciso reconhecer a importância do movimento, decorrente, de uma parte, de seu pioneirismo, lutando pala valorização da atividade literária num ambiente tacanho e primitivo relativamente às condições de produção intelectual; e, de outro, da instauração de vertentes temáticas que irão deitar raízes na literatura sulina, sobretudo quando dizem respeito ao aproveitamento da matéria local, de que irá se abeberar o Regionalismo, ao longo de sua trajetória.  



Ou seja, o Partenon Literário foi de suma importância para o desenvolvimento da literatura do Rio Grande do Sul. Nesse sentido, é possível dizer que os anos de 1860 e 70 foram, para a literatura do Rio Grande, o começo da circulação em escala apreciável das letras, em revistas e jornais, no teatro e nos encontros do Partenon, tudo marcado profundamente pela visão romântica, que se enxerga claramente no gosto das descrições de figuras tidas como representativas, muito especialmente o gaúcho, idealizado. Percebe-se, dessa forma, que a literatura elegeu um tipo característico: o gaúcho dos pampas, incumbido de ser um símbolo de legitimação da literatura sulina, inserindo-a no processo literário brasileiro.
Cesar (2006) afirma que no ano de 1884 surge, em Porto Alegre, A Federação, fazendo com que, no ano seguinte a sociedade Partenon Literário deixasse de existir, porém com a sua obra principal já concluída, fazendo com que a cultura sul-rio-grandense tivesse seus horizontes ampliados.























3 PRINCIPAIS AUTORES GAÚCHOS


Simões Lopes Neto
Eduardo Guimaraens
Amaro Juvenal
Érico Veríssimo
Cyro Martins
José Clemente Pozenato
Tabajara Ruas
Moacyr Scliar
Armindo Trevisan
Carlos Nejar
Caio Fernando Abreu
Sérgio Faraco
Luis Fernando Veríssimo
Dyonélio Machado
Raul Bopp
Mário Quintana
Luiz Antônio de Assis Brasil
Josué Guimarães
Charles Kiefer
Lya Luft










4  A POESIA DE MARIO QUINTANA


Por utilizar a fala urbana despojada, traduzindo a falta de sintonia com o meio, através de recursos simples, mas não menos poéticos e devido à riqueza de sentimentos nos seus poemas que, Mario Quintana, é consagrado como grande poeta da literatura Sul Rio-grandense. 
Mario de Miranda Quintana nasceu na cidade de Alegrete (RS), no dia 30 de julho de 1906. Quarto filho de Celso de Oliveira Quintana, farmacêutico, e de Virgínia de Miranda Quintana. Com 7 anos, auxiliado pelos pais, aprende a ler tendo como cartilha o jornal Correio do Povo. Seus pais ensinam-lhe, também, rudimentos de francês.
No ano de 1914 inicia seus estudos na Escola Elementar Mista de Dona Mimi Contino.
Em 1915, ainda em Alegrete, freqüentou a escola do mestre português Antônio Cabral Beirão, onde conclui o curso primário. Nessa época trabalhou na farmácia da família. Foi matriculado no Colégio Militar de Porto Alegre, em regime de internato, no ano de 1919. Começa a produzir seus primeiros trabalhos, que são publicados na revista Hyloea, órgão da Sociedade Cívica e Literária dos alunos do Colégio.
Por motivos de saúde, em 1924 deixa o Colégio Militar. Emprega-se na Livraria do Globo, onde trabalha por três meses com Mansueto Bernardi. A Livraria era uma editora de renome nacional.
No ano seguinte, 1925, retorna a Alegrete e passa a trabalhar na farmácia de seu pai. No ano seguinte, sua mãe falece.
Em 1929, começa a trabalhar na redação do diário O Estado do Rio Grande, que era dirigida por Raul Pilla. No ano seguinte, a Revista do Globo e o Correio do Povo publicam seus poemas. 
Em 1930, vai para o Rio de Janeiro, entusiasmado com a revolução liderada por Getúlio Vargas, também gaúcho, como voluntário do Sétimo Batalhão de Caçadores de Porto Alegre.
Volta a Porto Alegre, em 1931, e à redação de O Estado do Rio Grande.
O ano de 1934 começa a traduzir para a Editora Globo obras de diversos escritores estrangeiros: Fred Marsyat, Charles Morgan, Rosamond Lehman, Lin Yutang, Proust, Voltaire, Virginia Woolf, Papini, Maupassant, dentre outros. O poeta deu uma imensa colaboração para que obras como o denso Em Busca do Tempo Perdido, do francês Marcel Proust, fossem lidas pelos brasileiros que não dominavam a língua francesa.
Com 34 anos de idade lançou-se no mundo da poesia. Em 1940, publicou seu primeiro livro com temática infantil: “A rua dos cataventos”. Volta a publicar um novo livro somente em 1946 com a obra “Canções”. Dois anos mais tarde lança “Sapato Florido”. Porém, somente em 1966 sua obra ganha reconhecimento nacional. Neste ano, Mario Quintana, ganha o Prêmio Fernando Chinaglia, da União Brasileira dos Escritores, pela obra “Antologia Poética”. Neste mesmo ano foi homenageado pela Academia Brasileira de Letras.
Ainda em vida recebeu outra homenagem em Porto Alegre. No centro velho da capital gaúcha é montado, no prédio do antigo Hotel Majestic, um centro cultural com o nome de Casa de Cultura Mario Quintana.
Faleceu na capital gaúcha, no dia 5 de maio de 1994.


Principais obras:

A Rua dos Cataventos (1940)
Canções (1945)
Sapato Florido (1947), poemas em prosa.
Espelho Mágico (1948)
O Aprendiz de Feiticeiro (1950).
Poesias (1962) antologia completa.
Pé de Pilão (1968)
Apontamentos de História Sobrenatural (1976)
Nova Antologia Poética (1982)
Batalhão das Letras (1984)
Motivação:
A professora colocará a música “Sobre o tempo”, da banda Pato Fu, para os alunos escutarem. Sendo que, a letra da música, é um pedido para o tempo ser amigo e que interrompa apenas no final.
Após os alunos escutarem a música, serão distribuídos docinhos em forma de relógio. No papel do doce, terá uma palavra, como por exemplo: amor, família, educação, saúde, entre outras palavras. Os educandos terão que fazer uma relação, através de uma roda de conversa, entre o tempo e a palavra recebida.
Pré-leitura:
1-     O que vocês acharam da música?
2-     Sobre o que ela fala?
3-     A música pode ser considerada um poema?
4-     Vocês já leram algum poema que fale sobre o tempo?

Leitura:
Os alunos receberão a seguinte poesia do autor gaúcho Mario Quintana.
O tempo

A vida é o dever
que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas...
Quando de vê, já é sexta-feira...
Quando se vê, já é natal...
Quando se vê, já terminou o ano...
Quando se vê perdemos o amor da nossa vida...
Quando se vê passaram 60 anos...
Agora é tarde demais para ser reprovado...
Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas...

Pós-leitura:

1-     Qual é a temática do poema?
R.: A temática do poema é “o tempo”.

2-     O que o eu lírico pensa sobre o tempo?
R.: O eu lírico acredita que o tempo passa muito rápido, por isso devemos aproveitar melhor a vida, sem olhar para o relógio e sem medo de ser feliz.
3-     Você concorda com o eu lírico do poema?
R.: Resposta pessoal do aluno.


4-     De que forma o poema está estruturado? Os poemas são sempre estruturados dessa forma? Exemplifique.
R.: O poema está estruturado em uma estrofe com 14 versos livres. Os poemas podem ter outras formas de estruturação, como nos sonetos que são formados por 2 quartetos e 2 tercetos.


5-       Você gostou do título dado ao poema? Que outro título você daria?
R.: Resposta pessoal do aluno.

6-     No poema, o eu lírico interage com o leitor. Comprove a afirmação com os versos em que isso ocorre.
R.: E tem mais: não deixe de fazer algo de que gosta devido à falta de tempo.
Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz.
A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará.

7-     Com base no poema lido marque V para as afirmações verdadeiras e F para as falsas:
( F ) O tempo é nosso inimigo.
( V ) Devemos aproveitar a vida sem se preocupar com o tempo.
( V ) O tempo passa muito rápido.
( F ) A vida é um dever muito difícil, por isso somos reprovados.


8-     A repetição da expressão “quando se vê” enfatiza que ideia?
R.: A repetição da expressão “quando se vê” enfatiza a ideia de que o tempo passa muito rápido e não nos damos por conta.


9-     A metáfora é uma figura de linguagem que consiste na alteração do sentido, de uma palavra ou expressão, pelo acréscimo de um segundo significado, quando entre o sentido de base e o acrescentado há uma relação de semelhança, de intersecção, isto é, quando apresentam traços semânticos comuns. Quais os versos em que o autor utiliza esse recurso de linguagem?
R.: Verso 1:  A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Verso 8: Agora é tarde demais para ser reprovado...
Verso 10: Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas...
Verso 11: Seguraria o amor que está a minha frente e diria que eu o amo...
Verso 13: Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz.
10-  Qual o sentido da expressão “casca dourada”, no verso 10?
R.: Na expressão “casca dourada”, no verso 10, dá a entender que, assim como em uma fruta, nós nos deliciamos pelo seu conteúdo e não por sua casca. E a palavra dourada, representa os relógios antigos, os quais eram feitos de ouro.


Produção textual: sugestões

1- Conte, através de uma história em quadrinhos, algum momento de sua vida em que o tempo não foi “seu amigo”.

2- Leia o artigo de opinião “O tempo está passando mais rápido?”, do autor Benito Pepe, (anexo) e crie um texto argumentativo relacionando-o com o poema lido.



 



5  O REGIONALISMO DE SIMÕES LOPES NETO

Conforme Zilberman (1992), as primeiras manifestações regionalistas apareceram no cancioneiro popular. As manifestações literárias pioneiras, por sua vez, remontam à época da Revolução Farroupilha, o homem do campo em seu espaço rural.

A autora (ZILBERMAN, 1992) ainda afirma que o regionalismo, no Rio Grande do Sul, abrange um largo período: quase todo século XIX, a produção de textos acelerando-se, sobretudo, na década de 70, época de atuação do Partenon Literário, mas estendendo sua influência até os primeiros anos do Modernismo.  Ressurge, com forças renovadas, depois dos anos 30 de século XX, quando Aureliano de Figueiredo Pinto, Cyro Martins, Ivan Pedro de Martins, entre outros, apropriam-se da temática, apresentando-a dentro de uma ótica social, conforme os cânones do romance da época.

Outro autor que conquistou seu lugar na história da literatura gauchesca foi João Simões Lopes Neto. Considerado o maior autor regionalista do Rio Grande do Sul, pois procurou em sua produção literária valorizar a história do gaúcho e suas tradições. Nasceu em Pelotas, no dia 9 de março de 1865. Filho de uma tradicional família pelotense. Passou a infância nas estâncias de propriedade dos avós, no interior do Rio Grande do Sul. Aos 13 anos partiu para o Rio de Janeiro, onde estudaria no Colégio Abílio e, a seguir, na Faculdade de Medicina. Por motivos de saúde, contudo, abandonou os estudos e retornou ao Sul, para residir em sua cidade natal, Pelotas, onde trabalhou como professor, tabelião, funcionário público, comerciante e industrial. Em Pelotas, incentivou a vida cultural, escrevendo peças para grupos de teatro amador e participando de iniciativas que visassem à preservação das tradições gaúchas. Atuou também na imprensa, nos jornais A Opinião Pública e O Correio Mercantil, às vezes usando o pseudônimo de João do Sul.

No dia 5 de maio de 1892, em Pelotas, Simões Lopes Neto casou-se com Francisca de Paula Meireles Leite, filha de Francisco Meireles Leite e Francisca Josefa Dias. Ele tinha vinte e sete anos de idade e ela, dezenove anos. Não tiveram filhos.
Em certa fase da vida, empobrecido, sobreviveu como jornalista em Pelotas. Morreu do dia 14 de junho de 1916, na cidade em que nasceu, aos cinquenta e um anos, de uma úlcera perfurada.

Simões Lopes Neto deixou pequena obra de ficção: Cancioneiro Guasca (poesias), dezoito contos (in Contos gauchescos, 1912) e algumas lendas (in Lendas do Sul, 1913) recontadas de maneira literária.

Os contos são narrados pelo vaqueano Blau Nunes, no qual, segundo José Paulo Paes, Simões Lopes Neto "encarnou sua nostalgia do velho Rio Grande, o Rio Grande do Império e da Primeira República, cuja rude sociedade pastoril, com seu código de bravura pessoal, lhe forneceu os heróis e os motivos de sua novelística".
O escritor narra suas histórias em primeira pessoa, o que concede autenticidade aos ambientes e personagens.

Motivação:

Será convidada uma prenda do Centro de Tradições Gaúchas (CTG) para mostrar aos alunos alguns brinquedos, jogos e armamentos utilizados, antigamente, em nosso Estado.

Pré-leitura:

1-     Vocês já conheciam esses objetos?

2-     De quais vocês gostaram mais?

3-     Quem tem o costume de frequentar o CTG?

4-     Quais autores gaúchos vocês conhecem?

5-     Alguém já leu um texto, tipicamente, gaúcho?

6-     Vocês já ouviram falar no autor Simões Lopes Neto?

Leitura:

Os alunos receberão o conto a seguir, do autor Simões Lopes Neto:

JOGO DE OSSO

 — Pois olhe: eu já vi jogar-se uma mulher num tira de taba. Foi uma parada que custou vida… mas foi jogada!
Um pouco pra fora da Vila, na volta da estrada, metida na sombra dumas figueiras velhas ficava a vendola do Arranhão; era um bochinche mui arrebentado, e o dono era um sujeito alarifaço, cá pra mim, desertor, meio espanhol meio gringo, mas mui jeitoso para qualquer arreglo que cheirasse à plata...
Mui destravado da língua e ao mesmo tempo rezador, sempre se santiguando e olhando por baixo, como porco, tudo pra ele era negócio: comprava roubos, trocava cousas, emprestava pra jogo, com usura, e sempre se atrapalhava para menos, no troco dos pagamentos.
Às vezes armava umas carreiritas, que se corriam numa cancha dumas três quadras que ele mesmo tinha arranjado a um lado do potreiro; então conchavava algum gringo tocador de realejo e estava preparado o divertimento. O que ele queria era gente, peonada, andantes, vagabundos, carreteiros, para poder vender canha, comida e doces; e de noite facilitava umas mesas de primeira, de truco ou de sete-em-porta para tirar o cafife. Doutras ocasiões ajeitava umas dançarolas que alvorotavam o chinaredo da vizinhança.
Por este pano de amostra vancê vê o que seria aquele gavião.
Duma vez que ele tinha trançado umas carreiras, com duas ou três pencas de patacão, e se havia ajuntado algum povo, tudo gauchada leviana, choveu.
A chuvarada estragou a cancha, molhou as carpetas, atrapalhou tudo.
E a gente foi ganhando na venda, apinhoscou-se por debaixo das figueiras e no galpão.
Quando passou o aguaceiro e oriou o terreiro, deram alguns aficionados para jogar o osso.
Vancê sabe como é que se joga o osso?
Ansim:
Escolhe-se um chão parelho, nem duro, que faz saltar, nem mole, que acama, nem areento, que enterra o osso.
É sobre o firme macio, que convém. A cancha com uma braça de largura, chega, e três de comprimento; no meio bota-se uma raia de piola, amarrada em duas estaquinhas ou mesmo um risco no chão, serve; de cada cabeça da cancha é que o jogador atira, sobre a raia do centro: este atira daqui pra lá, o outro atira de lá pra cá.
O osso é a taba, que é o osso do garrão da rês vacum. O jogo é só de culo ou suerte.
Culo é quando a taba cai com o lado arredondado pra baixo: quem atira assim perde logo a parada. Suerte é quando o lado chato fica embaixo: ganha logo e sempre.
Quer dizer: quem atira culo perde, se é suerte ganha e logo arrasta a parada.
Ao lado da raia do meio fica o coimeiro que é o sujeito depositário da parada e que a entrega logo ao ganhador. O coimeiro também é que tira o barato — para o pulpeiro. Quase sempre é algum aldragante velho e sem-vergonha, dizedor de graças.
E um jogo brabo, pois não é?
Pois há gente que se amarra o dia inteiro nessa cachaça, e parada a parada envida tudo: os bolivianos, os arreios, o cavalo, o poncho, as esporas. O facão nem a pistola, isso, sim, nenhum aficionado joga; os fala-verdade é que têm de garantir a retirada do perdedor sem debocheira dos ganhadores... e, cuidado… muito cuidado com o gaúcho que saiu da cancha do osso de marca quente!...
Pois dessa feita se acolheraram a jogar a taba o Osoro e o Chico Ruivo.
O Osoro era um moreno mui milongueiro, compositor de parelheiros e meio aruá; andava sempre metido pelos ranchos contando histórias às mulheres e tomando mate de parceria com elas.
O Chico era domador e morava de agregado num rincão da estância das Palmas; e vivia com uma piguancha bem jeitosa, chamada Lalica.
Nesse dia Unha vindo com ela ao festo do Arranhão. Enquanto os dois jogavam, a morocha andava lá por dentro, com as outras, saracoteando.
Havia violas; havia tocadores; a farra ia indo quente. E os dois, jogando. O Chico perdia uma em cima da outra.
— Culo! Outra vez?... Má raios!...
— Suerte, chê! Ganhei! repetia o Osoro.
— Jogo-te o tostado, aperado, valeu? Topo!
E culo!... Isto é mau olhado dalgum roncolho mirone!...
E relanceou os olhos pelos vedores, esperando que algum comprasse a camorra; ninguém se picou.
— Jogo o teu ruano contra as duas tambeiras da Lalica!
— E pouco, Chico!... Ainda se fosse a dona!...
— Osoro, não brinca!... Pois olha; jogo!
— O ruano?
— O mano contra a Lalica! Assim como assim, esta china já está me enfarando!...
— Pois topo!
Os mirones se entreolharam, boquejando, alguns; eles bem viam que o gaúcho estava sem liga, que já tinha perdido tudo, o dinheiro, o cavalo, as botas, um rebenque com argolão de prata; e agora, o outro, o Osoro, para completar o carcheio, ainda tinha topado a última parada, que era a china...
A cousa ia ser tirana; correu logo voz; em roda dos dois amontoou-se a gente.
O Osoro atirou, e deu suerte...
O Ruivo atirou, e deu suerte...
— Ora, não deu gosto! disse um.
— Outra mão! disse o outro.
E o Ruivo atirou: culo!
O Osoro atirou: suerte!
— Ganhei, aparceiro!
— Pois toma conta, ermâo!
— Tu é que tens de fazer a entrega...
— Não tem veremos... Trato é trato!...
Já ia querendo anoitecer.
O que se passou entre aquelas três criaturas, não sei; se juntaram num canto do balcão da venda e falaram. Por certo que o Chico Ruivo disse à china que a jogara numa parada de taba; o Osoro só disse uma vez:
— Eu, se perdesse o ruano, o Chico já ia daqui montado nele...
A Lalica deu uma risadinha amarela; olhou o Osoro, olhou o Chico Ruivo, cuspiu de nojo e disse pra este, na cara:
— Sempre és muito baixo!..., guampudo, por gosto!...
— Olha, guincha, que te grudo as chilenas!...
— Ixe! Este, agora, é que me encilha, retalhado!...
Nisto um violeiro pegou a rufar uma dança chorada; umas parelhas pegaram a se menear no compasso da música e logo o Osoro, para cortar aquele aperto, travou do pulso da morocha, passou-lhe o braço na cinta e quase levantando-a no ar entrou na roda dos dançadores; o Ruivo ficou quieto, mas de goela seca e nos olhos com uma luz diferente.
Na primeira volta, quando o par passou por ele, a china ia dizendo mui derretida:
— Quando quiseres, meu negro...
Na segunda volta, como num despique, ela tornou a boquejar pro Osoro:
— Eu vou na tua garupa...
E na outra, a china vinha calada, mas com a cabeça deitada no peito do par, olhando terneira pra ele, com uma luz de riso, os beiços encolhidos, como armando uma promessa de boquinha; e o Osoro se esqueceu do mundo… e colou na boca da tentação um beijo gordo, demorado, cheio de desaforo...
O Chico Ruivo teve um estremeção e deu um urro entupido, arrancou do facão e atirou o braço pra diante, numa cegueira de raiva, que só enxerga bem o que quer matar...
E vai, como pegou o Osoro pela esquerda, do lado, meio por detrás, por debaixo da paleta, o facão saiu no rumo certo e foi bandear a Lalica meio de lado, sobre a esquerda da frente.
Vancê compr’ende? Do mesmo talho varou os dois corações, espetou-os no mesmo feno, matou-os da mesma morte, fazendo os dois sangues, num de cada peito, correrem juntos num só derrame... que foi lastrando pelo chão duro, de cupim socado, lastrando... até os dois corpos baterem na parede, sempre abraçados, talvez mais abraçados, e depois tombarem por cima do balcão, onde estava encostado o tocador, que parou um rasgado bonito e ficou olhando fixe para aquela parelha de dançarmos morrentes e farristas ainda!...
Levantou-se uma berraçada.
— Matou! Foi o Chico Ruivo!... Amarra! Cerca!...
Mas o Ruivo parece que voltou a si; coriscou o facão aos dois lados e atropelou a porta, ganhou o terreiro e se foi ao palanque onde estava o ruano do Osoro: montou e gritou pra os que ficavam:
— Siga o baile!...
E deu de rédea, no escuro da noite.
O Arranhão acudiu ao berzabum; aquele safado, curtido na ciganagem, só soube dizer:
— Pois é... jogaram o osso, armaram a sua paranda... mas nenhum pagou nada ao coimeiro!... Que trastes!...
Pós-leitura:

1-     Como a fábula, o conto é um texto curto que pertence ao grupo dos gêneros narrativos ficcionais. Caracteriza-se por ser condensado, isto é, apresentar poucas personagens, poucas ações e tempo e espaço reduzidos. No conto “Jogo de osso”:

a)     Quem são as personagens principais envolvidas no conto? Descreva-os.
R.: Osoro: um moreno mui milongueiro, compositor de parelheiros e meio aruá; andava sempre metido pelos ranchos contando histórias às mulheres e tomando mate de parceria com elas.
Chico Ruivo: domador e morava de agregado num rincão da estância das Palmas; e vivia com uma piguancha bem jeitosa, chamada Lalica.

b)     Qual é o tempo de duração e o espaço dos fatos narrados?
R.: A história narrada não dura mais do que o tempo da aposta do jogo de osso e o início de uma dança. Já o espaço em que ocorreram os fatos narrados, foi em uma vendola, fora da Vila, na volta da estrada, metida na sombra dumas figueiras velhas.

c)      O conto é narrado em que pessoa? Justifique com uma passagem do texto.
R.: O conto é narrado em 1ª pessoa, como podemos perceber em:
1) ... eu já vi jogar-se uma mulher num tira de taba. Foi uma parada que custou vida… mas foi jogada!
2) ... e o dono era um sujeito alarifaço, cá pra mim, desertor...
3) E a gente foi ganhando na venda, apinhoscou-se por debaixo das figueiras e no galpão...
4) Pois há gente que se amarra o dia inteiro nessa cachaça...
5) ...em roda dos dois amontoou-se a gente...
6) O que se passou entre aquelas três criaturas, não sei...


2-     João Simões Lopes Neto tem sua obra considerada como regionalista, composta de contos que apresentam características e temáticas do Rio Grande do Sul. De que forma percebemos no conto essa afirmação? Exemplifique.
R.: Percebemos isso através da linguagem utilizada no conto como, por exemplo, ruano, milongueiro, chinaredo, bochinche, morocha, entre outras palavras. E, percebemos também, através de algumas tradições do Rio Grande do Sul, como a aposta de carreiras, o jogo do osso e o costume de apostar animais.


3-     Relacione a primeira coluna com a segunda:
A)    Situação inicial.
B)    Sequência das ações.
C)    Complicação.
D)    Resolução
E)    Situação final.

( D ) Chico Ruivo finca o facão em Osoro e Lalica, numa cegueira de raiva.
( B ) Descrição do lugar em que ocorre a narrativa.
( B ) Aposta feita entre Osoro e Chico Ruivo.
( B ) Descrição dos personagens principais.
( E ) Osoro e Lalica morrem abraçados.
( A ) Afirmação sobre o fato de uma mulher ter sido apostada e que custou a vida.
( C ) Osoro ganha à aposta e tira a morocha para dançar e dá-lhe um beijo.
( E ) Chico Ruivo foge no ruano de Osoro.

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4-     Você acredita que, antigamente, as coisas eram resolvidas da forma como Chico Ruivo resolveu o seu problema?
R.: Resposta pessoal do aluno.

5-     Qual o título que você daria para o conto?
R.: Resposta pessoal do aluno.

6-     Qual foi a reação de Lalica quando soube que Chico a jogara em uma aposta?
R.: Lalica cuspiu de nojo na cara de Chico Ruivo, chamando-lhe de guampudo.

7-     Observe as expressões abaixo e escreva, ao lado, na linguagem típica gauchesca. As palavras estão relacionadas ao texto lido. Use um dicionário de expressões regionalistas.

Rapariga morena: morocha
Grande espertalhão: aralifaço
Pequeno campo fechado: potreiro
Mulheres de vida fácil: chinaredo ou piguanchas
Aquele que tem lábia/ou tocador: milongueiro
Novilha mansa: tambeira
Cavalo branco com malhas pretas redondas: ruano
Grandes esporas de enormes rosetas: chilenas


8-     Em alguns momentos o narrador interage com o leitor, dando mais veracidade ao fato narrado. Descreva um desses momentos.
Respostas possíveis:
1) Pois olhe: eu já vi jogar-se uma mulher num tira de taba. Foi uma parada que custou vida… mas foi jogada!
2) Vancê sabe como é que se joga o osso?
3) E um jogo brabo, pois não é?
4) Vancê compr’ende?

9-     Podemos afirmar que Chico Ruivo já estava com vontade de brigar, por isso levou junto, na venda, o facão. Justifique sua resposta levando em consideração a cultura tradicionalista.
R.: Chico Ruivo não tinha a intenção de ir à venda para brigar. Na nossa cultura, os homens que andam pilchados, sempre têm uma arma branca na cintura, como parte da indumentária gaúcha.

10- O que você mais gosta na nossa tradição?
R.: Resposta pessoal do aluno.


Produção textual: sugestões


1- Conte, através de uma narrativa escrita, uma lenda da nossa região que já tenha ouvido. No final, dê sua opinião quando a veracidade da história.

2- Crie um novo final para o conto “jogo de osso” com a utilização da linguagem regionalista e elementos da nossa tradição.

3- Procure em jornais reportagens ou notícias que falem da violência da nossa sociedade. Posteriormente, cole em seu caderno e reproduza, com suas palavras, o que foi noticiado, dando um novo título.

REFERÊNCIAS



CESAR, Guilhermino. Нistória do Rio Grande do Sul: período colonial. Porto Ale­gre: Globo, 2006.

CНAVES, Flávio Loureiro. Нistória e Literatura. 3.ed. Porto Alegre: Ed. UFRGS, 1999.

PEPE, Benito. O tempo está passando mais rápido?. 2006. Disponível em: <http://www.planetanews.com/news/2006/10367>. Acesso em: 21 dezembro 2010.

QUINTANA, Mario. Biografia. Disponível em:

<http://www.releituras.com/mquintana_bio.asp>. Acesso em: 22 de novembro de 2010.


ZILBERMAN, Regina. Literatura gaúcha: Temas e figuras da ficção e da poesia do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: L&PM, 1985.

——. 1992. A literatura no Rio Grande do Sul. 3.ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1992.

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