Bem-vindos ao blog do curso de Letras da Faccat

Informação, interação e diálogo: são esses os motivos da criação deste blog. Aqui, os alunos de Letras da Faccat ficam informados dos últimos acontecimentos do curso: é um espaço para ver e ser visto!

terça-feira, 19 de abril de 2011

Feliz Páscoa!

Desejamos a todos uma Páscoa muito, muito feliz.
Ajudante do Coelhinho

Eu já sei o que vou responder
Quando aquela pergunta chata alguém fizer:
“O que você quer ser quando crescer?”
Vou dizer para quem ouvir quiser:

Será que ninguém tem pena do Coelhinho?
Arruma sozinho tanto ninho...
Ele precisa de um grande ajudante!
Que tenha uma mente brilhante.


É preciso ser muito cuidadoso:
Chocolate é negócio perigoso...
Saboroso...
Delicioso...
O ajudante só pode ser um pouquinho guloso!


Você também pode ajudar!
Se você da Páscoa gostar...
É só deixar rolar a sua criatividade
E curtir o coelhinho de verdade!

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Texto do acadêmico Vando Roberto Baum

Ainda seguindo a proposta de comparar as representações da figura estereotipada do "gaúcho", o acadêmico Vando Roberto Baum escreveu o texto que segue abaixo.

Gaúcho grande do sul.
   Antes de tudo, cabe ao leitor saber que a análise que segue tem como intenção apenas fazer uma constatação imparcial acerca do gaúcho tipificado.
   Ao analisarmos o poema “Canto Campeiro”, de Apolinário Porto Alegre, e também a canção “Colorada”, de Mário Barbará Dornelles, podemos perceber muitos aspectos em comum, aspectos com relevante tom de patriotismo, ou então, regionalismo, dado o fato de que se trata de uma região
em questão e não de um país todo. Já nos primeiros versos do poema “Canto Campeiro”, constatamos a idéia de suprema coragem do povo em questão (gaúcho, ou dos campos do sul) em relação aos supostos inimigos: “Avante, ginete/Dos campos do sul!/Quem pode contigo,/Que, afeito ao perigo,/A sanha
do imigo/Não temes, taful?”
   A canção “Colorada” faz mais propriamente uma abordagem daquilo que teria sido a Revolução Farroupilha, feita num ímpeto que incita a apreciação de tal guerra. Há nesta canção, também, uma ideia de extremo enobrecimento ante ao conflito ao que a região se expusera, uma vez que não se percebe nela um sentimento de melancolia e tão pouco de pesar por causa da guerra.
   A canção nos dá indícios de como teriam sido alguns conflitos: “Olha a faca de bom corte, olha o medo na garganta/O talho certo e a morte no sangue que se levanta/Onde havia um lenço branco, brota um rubro de sol por/Se o lenço era colorado, o novo é da mesma cor.”
Em ambos os textos, temos a imagem de um gaúcho aguerrido, dominador das táticas de guerra, que de forma alguma se dobra ao sistema que o inimigo tenta impor. Trata-se de um homem disposto a tudo pela suposta pátria, um homem que vence a tudo e a todos, capaz até de doar a própria vida por sua terra e por seus interesses ou pelos interesses de seu povo.
   Cabe entendermos que é completamente louvável a ideia de se criar uma imagem de extrema positividade acerca do gaúcho. Uma vez falando de literatura, sabemos que ela é na sua essência, talvez, tão puramente ficção, e que é válido usá-la em prol de um povo ou de uma região, caso contrário, José de Alencar, por exemplo, não teria tal renome. Sabemos que o Rio Grande do Sul sofreu, de fato, com o desmazelo do governo central em relação ao seu maior bem de produção, o charque. O que vimos foi uma guerra que durou muitos anos, que dizimou muitas vidas. Os governantes daqui nadamais queriam a não ser reivindicar o que era nosso de direito, eis o motivo da revolução. Mas o fato de maior relevância, em se tratando dos dias de hoje, é que a guerra acabou, que os governantes não são mais os mesmos, ou seja, não há mais motivos para que o nosso estado ainda se sinta prejudicado e também não há mais motivos para que um heroísmo tolo seja representante de um povo.
   Há, ao longo do poema de Apolinário Porto Alegre, diversos trechos que fazem um chamamento ao gaúcho ou ao ginete, como está no poema: “Avante! Galopa/Num bom galopar;/Os laços e bolas./Ferinas pistolas/Já fiz preparar;/ Avante, ginete/Num bom galopar!” Ou então: “Não dorme o Rio Grande.../ Erguido de pé;/Quem pode vencê-lo?/Se sabem temê-lo/Capaz de retê-lo/No jugo, quem é!/Avante! Galopa...” O que podemos perceber destes versos, além da prepotência demasiada em relação a quem não faz parte do tal Rio Grande ou então além de mera apreciação da guerra, tola por sinal? E a canção de Mário Barbará segue relatando a guerra numa linguagem que permite certa aproximação com o gaúcho deveras enraizado: “Era no tempo das revolução,/Das guerra braba, de irmão contra irmão./Dos lenço branco contra os lenço colorado,/Dos mercenário contratado a patacão./Era no tempo que os morto votavam/E governavam os vivo até nas eleição...” Ou então: “Era no tempo do inimigo não se poupa/Prisioneiro era defunto e se não fosse era exceção./Botavam nele a gravata colorada/Que era o nome da degola nestes tempos de leão.”
    Do ponto de vista literário, pode-se dizer que é sim aceitável essa espécie de mistificação do gaúcho e também da sua imagem, mas ao trazermos para nossa realidade percebemos que não passa apenas de uma identidade utópica, de uma apreciação sonhadora, de uma imagem que de forma alguma deve condizer com a nossa atualidade. A arte não necessariamente tem de retratar a realidade. Não se deve pensar em hipótese
alguma que determinado povo pode ser considerado melhor ou pior que outro. O povo gaúcho, por sinal, não se diferencia internamente do restante do Brasil, a realidade gaúcha é a mesma que o restante do país, também as necessidades e certamente as futilidades. Pensemos da seguinte forma: se todos os homens fossem como o gaúcho retratado nas canções tradicionalistas e também em alguns poemas, teríamos um estado muito mais enrijecido do que já é, um estado extremamente machista e preconceituoso em relação ao resto do Brasil. Sejamos francos, em tempos de globalização não é o separatismo o que queremos, mas sim uma idéia de unidade e de um fortalecimento econômico comum.
   O grande problema do tradicionalismo é quando se esquece que ele é apenas folclore, que ele é apenas uma forma de identidade muito apreciável e que nos remete ao nosso passado. Apreciar a guerra é apreciar a violência. Cabe ao gaúcho ser o tipo culto que diz ser, respeitando todas as formas de pensamento e rejeitando todo tipo de conservadorismo, pois um povo que não vislumbra o futuro acaba por ser escravo da inflexibilidade do passado. O jeitinho brasileiro também se estende aos pampas, fazendo com que o gaúcho não passe apenas de mais um personagem neste enredo sem fim. Que o gaúcho de pouca visão acerca daquilo que se pode considerar uma convivência estável, que o gaúcho tirano e autoritário, seja do passado ou dos dias de hoje, que o gaúcho animalesco, cujos hábitos fazem a sua imagem deplorável, que o gaúcho apreciador do genocídio e de suas causas desalmadas, que o gaúcho incapaz de aceitar as diferenças, que esse tipo de gaúcho fique tão somente preso ao passado e suas ideologias fracassadas e
que das páginas dos livros ou então dos versos entusiasmados ele não possa ter voz ativa, pois este gaúcho é justamente aquilo que o mundo repudia ou deveria repudiar, ele é o retrocesso. E, claro, que as nossas façanhas não sirvam de modelo a toda terra, uma vez que não sabemos quais façanhas seriam estas.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Texto da acadêmica Bruna Cristina Lampert para a disciplina "Literatura Sul-Rio-Grandense"

Segue mais um texto que faz a comparação entre as representações do "gaúcho". Um dos diferenciais deste trabalho, escrito pela acadêmica Bruna Cristina Lampert, é que parte de uma canção tradicionalista, intitulada "Desgarrados", que mostra o que chamamos de "gaúcho a pé".


      O poema “Na estância”, escrito por Múcio Scévola Lopes Teixeira, retrata a vida do gaúcho no campo,
apresentando um dia de sua rotina. Todo esse universo é descrito através de pequenas imagens, como o
encilhamento do cavalo, a mesa posta sem toalha (provavelmente, entalhada pelo próprio gaúcho) e o sempre presente chimarrão, elemento essencial ao homem do campo. Unidas, essas imagens formam um belo mosaico representativo da vida campeira. Ao longo de todo o texto, percebemos o modo de vida rústico, simples e minimalista. O que temos não é um lamento por essa condição, pelo contrário, é um canto de louvor à vida desprovida de luxo. O mosaico a que faço referência não é um retrato das agruras vividas pelo gaúcho, mas sim uma pintura pitoresca de sua rotina.
      Vemos, também, as paixões do gaúcho, entre elas a morena gentil que lhe aperta os dedos ao passar o mate amargo, a pesca noturna, as cantigas ao redor do fogo de chão e as historinhas contadas pelas pessoas mais velhas. Enfim, todas as pequenas alegrias que preenchem sua vida. São esses humildes prazeres que cativam o eu-lírico e que inibem o pensamento de uma vida distinta. A forte relação com o gado e o inseparável cavalo, daí a expressão “país dos centauros”, também está presente, desde o encilhamento até o mugido lúgubre da boiada solta pelos pampas.
    Outro fator constante é a culinária, com comida sempre farta e saborosa. Dadas as condições vividas pelo gaúcho da época, sabemos que não são mais do que elementos iconográficos, exaltando a suposta prosperidade do campesino sulista. Em verdade, a imagem passada pelo poema é aquela em que o eu-lírico
gostaria de viver. Todas as dificuldades da vida do interior são omitidas. O que nos é mostrado são os lados bons desse modo de viver. Impossibilitado de levar outra vida, o gaúcho procura em seu próprio rancho miserável razões para ser feliz. Enfim, temos no poema a visão interiorana de uma existência simplória, porém prazerosa. O gaúcho, no poema, não quer deixar o campo, pois é ali que se sente feliz. Separá-lo de sua terra é algo impensável, mesmo que sobreviver ali exija árduo trabalho.
    É sobre essa dolorosa separação e suas consequências a que a música “Desgarrados”, composta por Sérgio Napp e Mário Barbará Dorneles e premiada na décima primeira Califórnia da Canção Nativa, faz referência. A letra é um contraste entre a imagem icônica vista no poema e as dificuldades enfrentadas pelo gaúcho que deixou o interior para viver no caos urbano da capital. No começo da música, somos apresentados à realidade vivida pelo interiorano que largou o campo em busca de uma vida melhor, mais próspera, na cidade, mas que, ao desembarcar nela, não conseguiu trabalho e vive a
mendigar: “Eles se encontram no cais do porto pelas calçadas/ Fazem biscates pelos mercados, pelas esquinas,/ Carregam lixo, vendem revistas, juntam baganas/ E são pingentes das avenidas da capital”.
     O arrependimento pela mudança é bem visível em “faziam planos e nem sabiam que eram felizes”, ou seja, apesar de serem felizes no campo, a suposta facilidade da existência urbana os atraiu, trazendo a infelicidade.
    Depois, visões de um passado mais feliz, muito semelhantes ao relato expresso no poema, fazem o contraponto dessas duas realidades. Novamente, a comida farta (veja como a “carne gorda” aparece nos dois textos), a convivência com os amigos, o chimarrão, os causos contados ao lado da fogueira se fazem presentes, apresentando a mesma exaltação à vida campeira vista no poema.
      Por outro lado, enquanto o poema evidencia apenas aspectos positivos, a letra da música é mais melancólica e nostálgica, principalmente no trecho “mas o que foi, nunca mais será”, que deixa claro que o gaúcho já não é mais o mesmo, que nada será como antes, que todos os pequenos prazeres da vida simples já não passam de um saudoso passado, esquecido e levado pelo sopro do minuano.

Na estância
- De manhã cedo, quando o sol nem ousa
Correr a sombra que no campo dorme
- Saltar da cama, lançar mão do pala,
Lavar o rosto na lagoa enorme...
Depois, voltar ao rancho, ou ao sobrado,
- Tanto num como noutro há boa gente –
E na rede, suspensa de dois caibros,
Saborear um chimarrão - bem quente;
Ensilhar o cavalo, ir a galope,
Dar o bom-dia ao próximo vizinho
E assentados a uma mesa – sem toalha,
Um churrasco comer, bebendo vinho...
Dormir ao meio-dia um sono à sesta,
À sombra de uma árvore frondosa,
E despertar às vozes de moleque
Que anuncia a comida apetitosa;
Jantar feijão com xarque, carne gorda,
Costeletas de porco, arroz da terra;
E após a sobremesa de laranjas
Passear té sol posto pela serra;
Eis a vida que levam todo dia
Os robustos e sãos estancieiros:
Que se tem luxo é só na prataria
Com que arreiam os ágeis sarilheiros...
E a pescaria à noite? E as cantigas
De analfabeto, alegre menestrel,
Que improvisa bons versos – sem que saiba
Nem escrever seu nome no papel?...
E os olhados gentis das mulatinhas,
Que os dedos nos apertam ao dar o mate?
E depois – desfalece na viola,
Com saudades talvez d’algum mascate...
E os sorrisos ingênuos da morena,
A quem chamam Nenê ou Sinhasinha?...
E as façanhas dos moços caçadores?...
E as historinhas da trêmula velhinha?...
Eu gosto desta vida ignorada
Que passam na estância meus patrícios,
Longe das multidões – longe dos vícios;
Aos lúgubres mugidos da boiada...

Desgarrados
Eles se escondem pelos botecos entre cortiços
E pra esquecerem contam bravatas, velhas histórias
E então são tragos, muitos estragos, por toda a noite
Olhos abertos, o longe é perto, o que vale é o sonho
Refrão
Sopram ventos desgarrados, carregados de saudade
Viram copos, viram mundos, mas o que foi nunca mais será
Cevavam mate, sorriso franco, palheiro aceso
Viraram brasas, contavam casos, polindo esporas,
Geada fria, café bem quente, muito alvoroço,
Arreios firmes e nos pescoços lenços vermelhos
Jogo do osso, cana de espera e o pão de forno
O milho assado, a carne gorda, a cancha reta
Faziam planos e nem sabiam que eram felizes
Olhos abertos, o longe é perto, o que vale é o sonho
Refrão
Sopram ventos desgarrados, carregados de saudade
Viram copos, viram mundos, mas o que foi nunca mais será
Jogo do osso, cana de espera e o pão de forno
O milho assado, a carne gorda, a cancha reta
Faziam planos e nem sabiam que eram felizes
Olhos abertos, o longe é perto, o que vale é o sonho
Refrão
Sopram ventos desgarrados, carregados de saudade
Viram copos, viram mundos, mas o que foi nunca mais será

Texto do acadêmico Tiago Mossmann

Ainda seguindo a mesma proposta de comparação entre as representações do gaúcho em poema da época do Partenon Literário e em letras de canções "tradicionalistas" contemporâneas, o acadêmico Tiago Mossmann escreveu o seguinte texto:

O Partenon e suas heranças na música tradicionalista gaúcha

Tiago Roberto Mossmann[1]

Ao Remontar a história da Literatura Sul-riograndense, coloca-se como os precursores da produção literária feita aqui no Rio Grande do Sul, o grupo “Partenon Literário”, fundado “em 1868 por um punhado de jornalistas, professores e candidatos a escritores em geral” (FISCHER, 2004, p. 14).
Liderado por Apolinário Porto Alegre e Caldre Fião, os autores desse grupo “escreviam ficção e ensaio, muitas vezes sobre figuras da região [...] publicavam na Revista mantida pela Sociedade, liam-se uns aos outros e iam reforçando a convicção de que valia a pena praticar a literatura como arte e identidade” (Idem). Nesse último ponto, assemelha-se a primeira geração romântica Indianista, a qual buscava a identidade nacional. Todavia, conforme afirma Zilbermann (1980, p. 16),

Em relação ao centro do país, este florescimento literário se deu com um certo atraso, principalmente considerando-se a escola literária a que se filiaram os pioneiros das letras gaúchas, isto é, o Romantismo – já decadente ou em fase de transição em outros centros culturais do Brasil (ZILBERMANN, 1980, p. 16).

A figura que se tem do gaúcho é a de um ser idealizado, bravo, valente, honrado, fiel a quem ele serve. O gaúcho retratado é o da campanha, que trabalhava nas charqueadas, tinha uma relação de amizade com seu cavalo, aliás, “tema predileto do gaúcho”, segundo César (p. 53).
Resquícios dessa literatura notam-se ainda em algumas canções tradicionalistas produzidas hoje no Rio Grande do Sul. Neste trabalho, compararemos alguns trechos do poema “Canto do Campeiro”, de Apolinário Porto Alegre, com trechos da música “Canto Alegretense”, dos Fagundes.

Canto do Campeiro” (excertos)

Avante, ginete
Dos campos do sul!
Quem pode contigo,
Que, afeito ao perigo,
A sanha do imigo
Não temes, taful?
Avante! Galopa
Num bom galopar;
Os laços e bolas,
Ferinas pistolas
Já fiz preparar

[...]

Não dorme o Rio Grande...
Erguido de pé;
Quem pode vencê-lo?
Se sabem temê-lo
Capaz de retê-lo
No jugo, quem é!

“Canto Alegretense”

Não me perguntes onde fica o Alegrete,
Segue o rumo do teu próprio coração
Cruzarás pela estrada um ginete,
E ouvirás toque de gaita e violão.

[...]
Ouve o canto gauchesco e brasileiro
Desta terra que eu amei desde guri...

No caso do poema, pode-se dizer que há a exaltação a bravura do gaúcho, que é “afeito ao perigo/ A sanha do imigo/ Não temes...” Quanto à música, há elementos que a aproximam do poema referido: o ginete, ou seja, o homem e seu cavalo; a idolatria à terra: “Não dorme o Rio Grande.../ Erguido de pé; / Quem pode vencê-lo?” Ou “Esta terra que eu amei desde guri”.
Sobre este aspecto romântico ufanista dos poemas dos autores do Partenon e da atual música gauchesca, julgamos que talvez seja esse um dos motivos para que esta produção não tenha força para alcançar reconhecimento em outros lugares, ou seja, “o beco que não sai do beco”, conforme fala Ligia Chiappini (1995).

Referências

CÉSAR, Guilhermino. História da Literatura do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Corag.

CHIAPPINI, Lígia. Do beco ao belo: dez teses sobre o regionalismo na literatura. In: Estudos históricos. Rio de Janeiro, vol. 8, n. 15, 1995.

FISCHER, Luís Augusto. Literatura Gaúcha. Porto Alegre: Leitura XXI, 2004.

ZILBERMANN, Regina. SILVEIRA, Carmen Consuelo. BAUMGARTEN, Carlos Alexandre. O Partenon Literário: poesia e prosa. Antologia: Porto Alegre: Escola Superior de Teologia São Lourenço de Brindes/ Instituto Cultural Português, 1980.


[1] Acadêmico do Curso de Letras das Faculdades Integradas de Taquara – FACCAT. Escreveu este trabalho para a disciplina de Literatura Sul-Rio-Grandense, sob a orientação da Professora Me. Luciane Wagner Raupp.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Texto da acadêmica Juliana Orsi Vargas, escrito para a disciplina de Literatura Sul-Rio-Grandense

De acordo com a mesma proposta desenvolvida pelo acadêmico Vicente Orsi Vargas (ver postagem anterior), Juliana desenvolveu a seguinte análise:

Análise do poema “Canto do Campeiro” (Apolinário Porto Alegre) e de canções
tradicionalistas atuais

   O poema "Canto do Campeiro", de Apolinário Porto Alegre, apresenta várias características do gaúcho tipificado. Ele é o campeiro, que anda pelos campos em cima de seu cavalo: “Avante, ginete/Dos campos do sul”. O animal assume posição de grande importância. O cavalo é uma extensão do homem valente, que não
teme o perigo: “Quem pode contigo,/que afeito ao perigo,/A sanha do inimigo/Não temes, taful?”. O herói de espírito livre, guerreiro bravo e injustiçado aparece nos versos: “O livre não teme/pesados grilhões;/Valente e bravos”. Elementos da indumentária do gaúcho típico são citados, como laços e bolas, fazendo referência, provavelmente, à boleadeira. Quando o poema diz: “Avante! Galopa” é a coragem de lutar por liberdade que está insuflando, porque o herói de guerra que a figura do gaúcho representa é sempre, como todo herói, um homem muito destemido. Além disso, o guerreiro arquetípico necessita de um ideal nobre. A nobreza de causa da luta é outro elemento do poema que está ligado ao gaúcho tipificado.
      A guerra (provavelmente, referindo-se à Farroupilha), em que a participação do valente campeiro é muito importante, está nesse poema, assim como nas canções tradicionalistas atuais. O imaginário sobre o homem do pampa que viveu em um determinado tempo (época da Revolução Farroupilha), ligado ao ideal guerreiro em busca da liberdade, é cantado como se esse “gaúcho” ainda existisse como tipo social. As canções e poemas tradicionalistas falam de um tempo morto, pois a modernidade do século XX enterrou aquela antiga vida nos pampas, que foi substituída por relações sociais alicerçadas em outros valores. Esses
valores estão relacionados à industrialização, e, por mais que o homem da cidade necessite do resgate de tempos antigos de vida pastoril como uma forma de evadir da sua realidade, essa evasão precisa ser reconhecida. E não é o que acontece com os grupos tradicionalistas que, em seu discurso, indo muito além das canções repetitivas, afirmam que aqui no Rio Grande do Sul temos uma cultura superior e diferenciada dos demais estados brasileiros. Será que isso representa a verdade, ou não passa de uma ilusão compartilhada, fazendo parte de uma ideologia direcionada para garantir manutenção aos grupos que estão no topo do poder político e dominam a mídia gaúcha? E, se é verdade que essa cultura existe e é superior, não seria por terem vindo para cá um grande número de imigrantes alemães e italianos, que nada tem a ver com o histórico desse tão aclamado gaúcho herói?
    A ideologia de que o Rio Grande do Sul é superior aos demais estados foi sendo formada no século XIX, como se vê no poema de Apolinário Porto Alegre. O seguinte trecho exprime bem esse fato: “Não dorme Rio Grande.../Erguido de pé;/Quem pode vencê-lo?/Se sabem temê-lo/Capaz de retê-lo/No jugo, quem é!”.
     Todo passado é cristalizado com o passar dos anos e, de alguma forma, acaba idealizado de várias maneiras; porém, o passado rio-grandense é exaltado, atualmente, pelo tradicionalismo, como se fosse possível recriar, perfeitamente, costumes de uma época longínqua, acentuando esses costumes como legítimos. Ora, se é uma recriação, não poderá ser uma manutenção de tradições, pois, ao recriar tradições, elas se modificam e perdem seu caráter original, naturalmente, por meio da ideologia vigente no tempo atual.
     Com relação às músicas escolhidas, foram encontrados diferentes elementos que também estão no poema. Isso prova que o tradicionalismo gaúcho é arcaico, ligado ao Romantismo na literatura, que foi substituído pelo Realismo há mais de cem anos.
      Na comparação entre o poema e a canção “Campereando”, percebe-se muita semelhança na descrição do gaúcho: o “campeiro”. Destaca-se em ambos a integração entre homem e animal, representado pelo cavalo. Por exemplo, no trecho da canção: “Vou eu a cavalo, encurtando o pago, campeador!”. O espaço, o pampa, é o local onde o gaúcho típico fazia suas invernadas, solidário aos outros homens. Essa solidariedade entre peões também aparece: “E um coração solidário”. A figura do homem livre e sonhador, que busca esses ideais no lombo do cavalo é exaltada nos versos: “Sempre que um sonho se planta/Tenho com quem conversar/Ando de laço atorado/[...]Talvez a buscando horizontes/Eu mude a cara do tempo”.
      A canção “Criado em Galpão” também apresenta vários elementos do gaúcho tipificado, como chimarrão, apego a terra, o galpão, a bombacha, as esporas, a natureza representada pelo campo, coragem e valentia. Novamente, como na outra música, os versos estão no presente, mas remetem a um tempo perdido. Esse homem, criado em galpão, que usa bombacha e trabalha na lide campesina, é um tipo praticamente inexistente na sociedade urbana de hoje.

Campereando (Mauro Moraes)
Na charla dos milongueiros
Contraponteando o silêncio
Eu sempre digo o que penso
Quando o violão me golpeia
E me garanto por terra
Cantando coisas do campo
Sem molestar o quebranto
Dum bordoneio queixoso
Daqueles do olhar lacrimoso
Quando voltamos pra dentro...
Campereando vou, campereando, vou
Vou eu a cavalo, encurtando o pago, campeador!
Guardo nas léguas dos olhos
Remorsos nunca esquecidos
Um catre "bueno" curtido
Pros dias que não enfrento
Tropilhas do mesmo pelo
Parceiras das invernadas
Quando amadrinho quarteadas
No pampa do meu Estado
E um coração solidário
Velando à luz dos luzeiros...
Campereando vou, campereando, vou
Vou eu a cavalo, encurtando o pago, campeador!
Sabe comadre milonga
Fulana nem sei das “quanta”
Sempre que um sonho se planta
Tenho com quem conversar
Ando de laço atorado
Marcado pelo meu jeito
Quando a dor abre o peito
E o vento nada responde
Talvez buscando horizontes
Eu mude a cara do tempo...
Campereando vou, campereando, vou
Vou eu a cavalo, encurtando o pago, campeador!

Criado em Galpão – Grupo Os Serranos
Nasci na pampa azulada
e da minha terra eu sou peão
estampa de índio campeiro
que foi criado em galpão
gosto do cheiro do campo
e do sabor do chimarrão
e de dobrar boi brabo a pealo
nos dias de marcação
Meu sistema de gaúcho
é mais ou menos assim
uso um tirador de pardo
arrastando no capim
uso uma bombacha larga
com feitio do melhor pano
e um "trinta" ao correr da perna
com palmo e meio de cano
Gosto de fazer um potro
se cortar na minha chilena
pra sentir o sopro do vento
me esparramando a melena
Crinudo que sacode arreio
engancho só na paleta
pois as esporas que eu uso
têm veneno na roseta
tenho um preparo de doma
trançado com perfeição
pra fazer qualquer ventena
saber que é este peão
O dia em que eu não puder
agüentar mais o repuxo
talvez o Rio Grande diga
lá se foi mais um gaúcho
mas enquanto eu tiver força
laço, domo e tranço o ferro
e na invernada do mundo
mais um rodeio eu encerro

Texto do acadêmico Vicente Orsi Vargas, para a disciplina Literatura Sul-Rio-Grandense

A proposta era comparar a letra de uma canção do atual "tradicionalismo" com um poema da época do Partenon Literário. O acadêmico Vicente Orsi Vargas escreveu o belíssimo texto que segue:

CARACTERÍSTICAS ESTEREOTIPADAS DO GAÚCHO PRESENTES NO POEMA CANTO DO CAMPEIRO, DE APOLINÁRIO PORTO ALEGRE, E COMPARAÇÃO COM A LETRA DA CANÇÃO NÃO PODEMOS SE ENTREGÁ PROS HOME

      O poema Canto do Campeiro, de 1870, escrito por Apolinário José Gomes Porto Alegre (Anexo I), nos mostra como o imaginário romântico da literatura gaúcha da época idealizava a figura do gaúcho. Já, no primeiro verso, “Avante, ginete”, vê-se a importância do cavalo e do cavaleiro, chamado de ginete. A imagem positiva do gaúcho livre, com o seu cavalo, que faz seu destino, com sua arma na mão, que precisa enfrentar perigos e nunca se entrega é evidenciada ao longo do poema, em versos como “Que, afeito ao perigo”, “Ferinas Pistolas Já fiz preparar”, “Avante ginete, Num bom galopar!”, “O livre não teme, Pesados grilhões”;
     Aparecem também descrições da natureza e do ambiente: “Na verde campina, Que o sol ilumina”, “Nossos rincões”.
      Exalta a figura da Nação do imaginário romântico gaúcho, a idealizada República Rio Grandense, em versos como “Não dorme o Rio Grande... Erguido de pé; Quem pode vencê-lo? Se sabem temê-lo Capaz de retê-lo No jugo, quem é!”.
      Relembra ditas façanhas históricas, referindo à Guerra dos Farrapos, nos versos “Soberbo decênio A história gravou; Decênio de glória De eterna memória, Que à luz da vitória A pátria vingou!”.

      Traçando um paralelo com o poema de Apolinário Porto Alegre, analisemos a música Não Podemos Se Entregá Pros Home, produção atual do tradicionalismo gaúcho (ver anexo II).
Aqui também, como no poema, se vê a reverência ao gaúcho valente já nos primeiros versos “O gaúcho desde piá vai aprendendo/ A ser valente não ter medo ter coragem / Em manotaços dos tempos e em bochinchos/ Retempera e moldura a sua imagem”.
Referência ao companheiro cavalo, na segunda estrofe: “Com lança cavalo e no peitaço” e na terceira estrofe: “E apesar dos bons cavalos e dos arreios”.

     Podemos, inclusive, ver uma relação muito estreita entre os significados dos versos do poema de Apolinário Porto Alegre “Avante! Galopa Num bom galopar;”; “Avante, ginete” e um verso da música “E esporeia o futuro com bravura”, mostrando um positivismo e crença num futuro bom, baseado nos valores da pátria, do povo e apoiado na força do homem.

     No final, a música ainda fala dos tempos atuais, do progresso e das mudanças da paisagem, como em:
“Veio o trator com seu ronco matraqueiro/ E no tranco sem fim da evolução / Transformou a paisagem dos potreiros”.
E sempre sem perder o otimismo: “E ao contemplar o agora dos seus campos / O lugar onde seu porte ainda fulgura / O velho taura da de rédeas no seu eu / E esporeia o futuro com bravura”.

    Como visto, o gaúcho idealizado pelos escritores do Partenon Literário ainda perdura nas letras das músicas tradicionalistas do Rio Grande do Sul. As ditas façanhas dos farrapos, a bravura, honestidade e lealdade do povo, a beleza dos campos e o companheirismo do cavalo habitam o imaginário de quem cultiva essa tradição.
   A meu ver, é uma pena que esse tradicionalismo cego, que se apega em falsas histórias, seja tão presente, ao passo que existem riquezas culturais, naturais e artísticas neste Estado que poderiam ser vivenciadas e cultuadas sem fanatismo, de uma maneira saudável e realista, sem nos abstermos de pensamentos críticos, fazendo com que o povo gaúcho fosse mais rico culturalmente e livre de preconceitos e discriminações contra aqueles que não comungam da cartilha do gauchismo sectário.

DATAS DAS OFICINAS - "LER É ..."

As primeiras oficinas de 2011 do Projeto "Ler é..." já têm data marcada na Faccat:
04 de maio - quarta-feira;
05 de maio - quinta-feira.
Nas duas datas, as atividades ocorrerão das 13h30min às 17h.

terça-feira, 5 de abril de 2011

E vem aí...o primeiro fascículo de 2011 do "Ler é..."

Não poderia ser diferente: o primeiro fascículo de 2011 do Projeto "Ler é..." faz a justa e devida homenagem ao nosso querido escritor Moacyr Scliar...
Para já começarmos a nos inspirar, seguem "as cenas dos próximos capítulos", ou melhor, algumas das ilustrações feitas pelo Sinovaldo para o fascículo...


Texto - "Cego e amigo"

Céu de escritores

No retiro da figueira

Pênalti